quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Janela ruína

Foto:josé alfredo almeida


Já ninguém se debruça naquela janela para usufruir duma vista ímpar na corografia do país. Terá sido, no  tempo da Ferreirinha e ainda depois, um camarote escancarado para o espectáculo em que, os actores (vinhas, oliveiras, rio e céu), em conjugada harmonia, nunca eram pateados.

Hoje, vidros resistentes à degradação assassina, deixam ver, embaciados, nacos de paisagem que mais parecem fotografias desfocadas.  Um deles, desobediente, fugiu em busca da liberdade. Terá ficado estilhaçado, mas, como diz o povo, "antes a morte do que tal sorte". Deixou um espaço livre por onde entram cheiros a vida, quebrando o mofo onde aranhas rendilham a seu bel-prazer.  


M. Hercília Agarez
Vila Real, 15 de Novembro de 2017

1 comentário:

  1. Um quadrado de vidro partido, e as teias
    de aranha que tentaram fazer uma cortina
    para a janela.

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