quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A beleza absoluta

Foto: josé alfredo almeida


S. Leonardo de Galafura, 8 de Abril de 1977 - O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um problema que os olhos contemplo: é um excesso da natureza. Socalcos que são pisadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes e modulações que nenhum escultor, pintor ou música podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta.

Miguel Torga, Diário XII

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