sexta-feira, 13 de maio de 2016

Uma grande excursão




    Não, não são do meu tempo. Também nem tanto! Apenas me foi dito que se trata do grupo do então Orfeão Lusitano de Vila Real. Vozes afinadas, de vários naipes, em pose na estação da Régua. Como se estivessem em frente à Casa Branca ou ao  Coliseu de Roma...Ares airosos desmentem cansaço de vinte e cinco quilómetros de viagem. De comboio, em linha estreita. A velocidade de cruzeiro. Com direito a paragem em todas as estações, em todos os apeadeiros. Uma, mais longa, para alimentar o animal férreo. A ementa, sempre a mesma: água e carvão. E toca a andar, pelo serpenteado da linha.
    Assentos de napa castanha (ou verde?) para traseiros mais abastados. Bancos duplos, de pau, para a plebe. Para todos os passageiros o mesmo brinde: umas faúlhas atrevidas capazes de passar pelo buraco de uma agulha. Alojam-se onde encontram guarida: nas narinas desprevenidas ou em bocas abertas perante a beleza da paisagem ou a soltarem palavras de convívio. No fim da viagem os lenços brancos parecem estar de luto. Pigarreia-se.
    Comboio. Alternativa à carreira. Outro percurso, outras aldeias. Chegada à Régua. Acaba a via estreita. Vê-se a via larga, caminho para outros destinos. Estação importante. Pena que na fotografia só tivesse ficado o RE. Rebuçadeiras de aventais brancos e cestos repletos de saquinhos de doçura inocente. Convém levar. Para amaciar a voz, para presentear alguém muito especial.

    Grupo excursionista. Pela aragem se vê quem veio na carruagem. O aprumo no  masculino. Poses à Rudolfo Valentino. Vestuário de Inverno. Variado. Fatos completos, sobretudos e gabardines. Uma capa alentejana marca a diferença. O agasalho chique. Cachecóis, chapéus e boinas. Postos, estes últimos, à vontade do freguês. Alguns à moda fadista, marialva. Imagem de alegria, de companheirismo. Um dia de festa.
      Excursão em tempos modestos. Hoje, só se fossem uns dias no Dubai...


Vila Real, 12 de Maio de 2016
M. Hercília Agarez

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