segunda-feira, 16 de maio de 2016

Somos dois caminhos paralelos...




    Duas pontes. Dois destinos. Dois caminhos paralelos. Dois estilos. Duas marcas na paisagem. Nasceu primeiro a metálica, com suas protecções férreas, arredondadas como os montes circundantes. Para pacificar duas margens, até então desavindas. Poucos os carros, então. Poucas as carreiras. Mas com direito, uns e outras, a encurtar distâncias. A poupar energias a peões à força.
    A seu lado, anos depois, nasceu a ponte ferroviária. Só de nome. E de intenções. Comboio para Lamego. Projecto abortado. Não é só de hoje, a crise... Mudou de vocação. Transferiu-se para ela o tráfego rodoviário. Resignou-se. Não perdeu a dignidade da sua robusta alvenaria.
    Abandonada durante muitos anos, degradou-se a vizinha do lado até ao ponto de envergonhar os reguenses. De manchar, como nódoa resistente, a sua paisagem. Resistiu. Como as árvores, também as pontes morrem de pé. Foi restaurada, graças à obstinação do poder local. Readquiriu a sua majestade de ícone edificado. Não voltaram, os veículos. Nem fazem falta. Ponte pedonal para gente sem pressa que gosta de contemplar o Douro, de cima. E os cardumes, sempre em maratona.
    Também passou por ela, hoje, a corrida pedestre mais bela do mundo. Vai chegar, em imagens com sol e rio e caminhos arborizados, a milhares de admiradores desta iniciativa solidária. Eram só dezasseis mil pessoas! De boa vontade.
    Mais uma ponte, agora. Não há duas sem três...Era de auto-estradas. De viadutos. De tempo sem tempo para namorar a paisagem.




Vila Real, 5 de Maio de 2016
M. Hercília Agarez

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