terça-feira, 1 de março de 2016

O Prazer e o Tédio




O Prazer e o Tédio

Autor: José Carlos Barros
Editora: Oficina do Livro (2009)



"O Prazer e o Tédio começa por ser a história de um edifício em ruínas: a Casa a Jusante da Ponte de Arame, construção antiga e saturada de memórias que Aline – uma mulher de 40 anos em luta contra o tédio que a paralisa (e mais ponto de fuga do relato do que protagonista) – não sabe se há-de reconstruir ou vender. O livro avança devagar, contemplando os esplendores naturais da bacia hidrográfica do Terva (as cumeadas, as encostas, as árvores, a luz, o rumor das águas), reflectindo sobre a passagem do tempo e o modo como as pessoas se agarram à terra, sobre essa «finíssima membrana» que separa o prazer dos seus perigos.
Então, quando parecia definir-se um certo rumo para o texto, este desvia-se, acelera e expande-se numa verdadeira saga familiar, com vários narradores, dezenas de personagens e uma hábil oscilação entre várias épocas históricas. Estamos agora em pleno realismo mágico, «como num romance sul-americano», com as tramas a atravessarem gerações e as tragédias acentuando as descontinuidades cronológicas. Há mulheres que adivinham o futuro, outras de cuja nudez emana uma luz que cega e queima, há perfumes no ar (alecrim, erva-cidreira) tão espessos que se tornam palpáveis, a fazer lembrar os primeiros livros de José Riço Direitinho.
Depois regressa a erosão, desfaz-se tudo outra vez, porque este livro reflecte sobretudo uma dupla impossibilidade. A da paisagem, frágil pano de fundo que é sempre inventado e destruído pelos homens (ou melhor, pelo poder central: o que põe o pinheiro bravo no lugar das espécies autóctones; o que ergue as barragens que tudo submergem). E a impossibilidade da própria narrativa, vezes sem conta assinalada por uma das narradoras (prima de Aline), porque «uma história, qualquer história, começa sempre muito antes ou muito depois das primeiras frases». Isto é, «não tem princípio nem fim».
Não poupemos nas palavras: O Prazer e o Tédio é um dos mais belos e arrebatadores romances de estreia publicados em Portugal na última década."



José Mário Silva in revista "Ler"


Sobre o autor: 

José Carlos Barros (n. 1963), arquitecto paisagista de formação, natural de Boticas, mas vive na Vila Nova de Cacela, no Algarve.
Admirador da escrita do contista reguense João de Araújo Correia, publicou seis livros de poemas nos últimos anos.
Em 2003 estreou-se com O Dia em que o mar Desapareceu. E  O Prazer e o Tédio é o seu primeiro romance.
Em 2009 o Prémio Nacional Sebastião da Gama, atribuído a Os Sete Epígonos de Tebasa. 
Em 2013 publica o romance Um Amigo para o Inverno onde revisita a história recente do nosso passado colectivo, recorrendo a um leque de personagens inesquecíveis, entre as quais se contam membros de uma célula clandestina do Partido Comunista, agentes da PIDE, homens e mulheres que se encontram ou perdem no amor, revolucionários que desistem dos seus sonhos e fracassados que, apesar de tudo, acreditam que é sempre possível recomeçar e vencer. Belo, profundo e comovente, o presente romance, baseado numa história verdadeira de resistência à ditadura no Norte do País, foi finalista do Prémio LeYa em 2012.

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