sábado, 19 de março de 2016

Lembras-te?




é de ti que eu falo
hoje
quando
todos os pássaros emigram do outono
para os beirais destruídos
quando os olhos cegos de conhecerem as margens
se fecham devagar
é de ti que eu falo.
lembras-te?
era janeiro e eu vinha como quem desce.
a casa tinha janelas azuis e à volta
um tempo de febre e canções longínquas.
estávamos sós.
lembras-te?
então o pai atravessa o cais.
aí paravam os estios da ilha
os ventos do atlântico queimavam os lábios
e ele dizia:
cresce filho corre filho
para onde irei para onde?
e ele dizia:
perdidos foram os teus lugares,
os caminhos íngremes e os contos de
terror,
as pedras húmidas onde te sentaste a
falar para o mar.
lembras-te?

José Agostinho Baptista

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