quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Hércules humanos

Foto: Artur Pastor




                                Douro, meu belo país do vinho e do suor,.....

                                                                            António Cabral




    Pés descalços pisam xistos-brasas. Concertina endomingada marca passos exaustos. Corpos curvados, de novos-velhos. Setenta quilos de uvas maduras em cestos de onde começam a soltar-se aromas líquidos com pressa de chegar ao destino. Eles as carregam, eles as pisarão, depois da ceia  esmifrada  com sabor a vinho de refugo.
     O Douro corre indisciplinado entre geios e curvas de estradas, percorridas a pé, de longes-pertos, pelas rogas de homens, mulheres e crianças.
     Homens robots. Missões definidas com precisão  matemática. Cheiram a suor e a mosto. No dia seguinte, acordarão com a mesma roupa em cardenhos onde palha é cama.
    Depois de terem erguido os socalcos, transportam-lhes  e pisam-lhes as colheitas. Hércules humanos. Forças desmedidas. Orgulho macho. Como escreve Jaime Cortesão, E foi assim que o Douro se tornou a melhor vinha e o melhor vergel de Portugal; que os homens roubaram aos deuses, para oferecer aos mortais de todo o mundo, a ambrósia divina; e uma raça de gigantes ergueu o mais belo e doloroso monumento ao trabalho do povo português. Esses foram e são os Lusíadas sem Camões. - in CANÇÃO DO MAIS ALTO RIO Antologia Literária do Douro 
               
       

15 de Setembro de 2015                                               
M. Hercília Agarez   

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