domingo, 23 de novembro de 2014

Era a Régua





 "(...)Na Régua há uma demora. Temos de chamar o Grilo, reave os nossos confortos...Olha para o rio!
Rolávamos na vertente de uma serra, sobre penhascos que desabavam até largos socalcos cultivados de vinhedos. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro. Pelo rio, onde a água turva e tarda nem se quebrava contra as rochas, descia com a vela cheia, um barco carregado de pipas. Para além, outros socalcos, de um verde pálido de reseda, com oliveiras apoucadas pela amplidão dos montes, subiam até outras penedias que se embebiam, todas brancas e assoalhadas, na fina abundância do azul. Jacinto acariciava os pêlos corredios do bigode:
- O Douro, hem?...É interessante, tem grandeza.
(...)
Eu desarrolhava uma garrafa de Amontillado - quando o comboio, muito sorrateiramente, penetrou numa estação. Era a Régua."


Eça de Queirós in "A Cidade e as Serras"   

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