quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Os livros de João de Araújo Correia-30




Dispensário Linguístico
(Antologia)

Autor: João de Araújo Correia
Editora: Imprensa do Douro- Régua,1999


"O escritor João de Araújo Correia,(...) também se preocupou muito com a língua portuguesa. Não só no aperfeiçoamento exaustivo dos textos de ficção e crónica mas, também, na recolha de vocábulos e, ainda, na defesa pública da fala e da escrita. Na sua tábua bibliográfica assinalam-se: Linguagem Médica Popular Usada no Alto Douro (1936); Por Amor da Nossa Fala - Notas sobre Pronúncia (1952); Enfermaria do Idioma (1971).
Estes livros foram antologiados por Fernando de Araújo Lima em A Língua Portuguesa (edições Verbo, com o patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura). É dedicado à memória de Aquilino Ribeiro e inclui a seguinte epígrafe de José Leite de Vasconcelos: "A língua é um dos elementos da nacionalidade: pugnar pela vernaculidade daquela é pugnar pela autonomia desta."
Que recomenda João de Araújo Correia? Alguns exemplos: "Respeitem-se os dialectos, mas não se consinta que nenhum deles se árvore em mentor dos outros. Língua é língua, dialecto é dialecto. (...) O lar do idioma português é Portugal. Nele deverá arder sempre a sagrada fogueira da pronúncia branca." "Pronúncia é poesia. Cada palavra pronunciada é uma rosa singela. Perderia a graça, perderia a inocência, se trouxesse presa, numa etiqueta de zinco, a história da família." "Se és português, não aprendas português com os filólogos."
Apesar disto, seguiu a doutrinação implacável dos filólogos do fim do século XIX e começo do século XX, com a obstinação de corrigir o que classificava erros e vícios da linguagem. Insurgiu-se por vezes com razão e autoridade, mas noutras circunstâncias emitiu opiniões que, no mínimo, julgamos absurdas.
Será melhor citá-lo: "Cobre a cara com uma serapilheira se disseres face a isso. Deves dizer em vista disso." "Telejornal e telespectador fora dos serviços televisivos são patetismos inúteis. Basta dizer jornal e espectador." "Se houvesse língua portuguesa, não haveria Partido Social-Democrata. Poderia haver Partido Social Democrático."
O exacerbado purismo de João de Araújo Correia transforma-o num cavaleiro do Apocalipse: "O idioma está condenado à morte. Perde, de hora a hora, o carácter, o vigor, a graça, a poesia." "O português dos nossos filhos não será português. Será uma burunganga."
Tão assanhado fundamentalismo seria impensável se não transcrevêssemos, na íntegra, estas insólitas afirmações. Cada qual faça os comentários que entender. E sem cobrir a cara com uma serapilheira..."


António Valdemar in Diário de Notícias de 28/03/1999

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