S. LEONARDO DE GALAFURA:Posto com dois vigias

Foto:josé alfredo almeida

    Estás com copa de poucos amigos! É assim que te conheço, que sempre me recebes - amuada. E não mudas, mesmo que vivas séculos (sim, tendes a mania que sóis imortais...).

    Pensando bem, não deixas de ter razão. Provavelmente já aí moravas quando construíram, dentro do "navio de penedos", essa capelinha de presépio, espécie de mísula onde alcandoraram o padroeiro. Sim, bem sabes de quem falo. Do teu rival, o S. Leonardo, tão vigilante como tu, no alto dos altos durienses, anfiteatro de onde se assiste, de graça, a um espectáculo cujo cenário muda de roupagem, mas não de actores: um rio serpeante, de sensuais curvas femininas, a dar de beber a vinhas - bênções  de Deus e da Natureza. Rio de memórias de barcos rabelos. Rio -  estrada cómodo para viagens de turismos abastados. 

    Aí no alto, centrando espécie de santuário a convidar ao recolhimento, tu és o último motivo de captação de  imagens, esgotados todos os outros ângulos. Ninguém prevenido deixa de ler, antes, o poema de Torga e o excerto do seu Diário, ambos azulejados. E é essa concorrência que não perdoas. Gostarias de ser o ícone de Galafura. Mas, contrariamente ao provérbio usado em contexto militar, a antiguidade [não] é um posto...

M. Hercília Agarez

Vila Real, 18 de Outubro de 2018