Foto:josé alfredo almeida |
Deixou-a
sozinha, desprotegida, o seu velho dono. Não receia que lha roubem. Não tem
valor, mas também não tem preço.
É uma extensão andante de um fiel das águas
enrugadas que a embalam. Suavemente.
Pois é. O Bogas, como é conhecido pela sua
perícia na pesca de tais peixes de água doce, foi levar à patroa, para o
almoço, o produto de uma manhã dourada a bordo da barca, silente ouvinte das
suas agruras.
Aproveita ela a imobilidade descansada para
espicaçar as suas recordações:
- Cresceram-me os dentes no rio. Conheço-o
como o meu casco.
Não. Fugiu-lhe a boca para a mentira. Na sua
frágil pequenez, nunca ninguém se aventurou a levá-la para longes de cachões de
outrora. Navega nos pertos. Com cais à vista. E é feliz assim.
Os turistas daqueles hotéis moventes, que
falam estrangeiro, olham-no sobranceiramente de tombadilhos-colmeias:
- Façam boa viagem. E encham as ventas com
as nossas vistas, com o nosso vinho.
Sim, com o nosso terroir, com o nosso Port
Wine. Nós, por cá, dizemos vinhedos e vinho fino, generoso, tratado. Com
muita honra.
M.
Hercília Agarez,
Vila Real, 06 de Julho
Águas enrugadas, é mesmo !
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