Quem te viu e quem te vê!

Foto:josé alfredo almeida

   É dificilmente numerável a lista de escritores que do Douro fizeram cenário de ficções, de poetas para quem ele era (e é) um elixir de lirismo. João de Araújo Correia, na introdução de RIO MORTO, título eloquente, faz uma abordagem dorida e vencida da transformação de um caudal bravo e impetuoso como um toiro num...lago empanturrado, mais rico do que um porco...

    Não foi o único "Velho do Restelo". Houve-os, há-os, havê-los-á, esses que não sabem, nem sonham / que o sonho comanda a vida. / Que sempre que um homem sonha / a vida pula e avança, como escreveu A. Gedeão em "Pedra Filosofal".

    Vendo a serenidade disciplinada do seu amado rio, outros durienses recordam, com irracional saudade, o dito "rio de mau navegar". Foram testemunhas presenciais ou meros ouvintes de milhentas histórias de que ele foi, durante séculos, uma versão fluvial dos perigos marítimos ultrapassados pelos lusos navegadores. Parece terem esquecido os naufrágios, as mortes, o desmantelamento de embarcações, a ferocidade de águas enfurecidas, em redemoinhos, os perigos escondidos em ameaçadores fragões e nas galeiras semeadas ao longo do curso.

    De rio velho se fez rio novo. Gentil anfitrião, cavalheiresco, recebe com fidalguia os visitantes. Portugueses e  estrangeiros. Aprendeu com os donos das quintas que lhe animam a caminhada na brancura dos  clássicos solares e no ocre dos edifícios de design  vanguardista.

     Não tem saudades dos rabelos, nem dos seus arrais. São bem mais catitas estes barcos, de onde se esgueira um linguajar cosmopolita. De tanto o ouvir, o Douro até se tornou poliglota...

M. Hercília Agarez

Vila Real, 13 de Julho de 2018