sexta-feira, 21 de abril de 2017

Uma casa venerável

Foto: josé alfredo almeida



"Casa venerável para mim, que o digo ou o escrevo. Para outros, não sei. Não sei nem me importa...
O que estimarei é que tal casa possa escapar, durante a minha vida, à fúria das demolições.É um bota-abaixo que parece, mais do que fugaz mania, uma demência. Não ficará pedra sobre pedra antiga para dar praça a altos castelos de blocos. Com eles brincam às casinhas as actuais crianças grandes - uns tamanhões que não sabem brincar doutra maneira.
Há-de haver, creio eu, santo que proteja casas velhas ainda aprumada nos seus alicerces. Se o há, digam-mo, que lhe quero rezar todos os dias. Quero-lhe pedir que me ampare uma casa secular, que se ergue ali abaixo, às Caldas do Moledo, na avenida que chamam dos Reformados.
Uma avenida que está de parabéns. Não há grande tempo que as suas árvores escaparam à degola.
Na tal dita casa, revestida de azulezos cinzentos, com pinceldas de azul, nasceu o meu pai no dia 15 de Julho de 1869.
É uma casa onde moraram ou ainda moram as senhoras Silvas.
Conhecem-na?"

(...)

4 de Setembro de 1980
João de Araújo Correia in jornal "O Arrais"

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