sexta-feira, 14 de abril de 2017

Só para te ver ganhar...






O furo que fiz no cartão dos brindes,
na padaria da Sra. Maria que ficava na minha rua,
numa prece calada,
cruzei os dedos da mão esquerda para me dar sorte.
Para poder ter nos braços aquela boneca de vestido azul, feito com um tecido esponjoso.
Quando o lápis perfurou o cartão abri os olhos de espanto, em vez da boneca acertei em cheio no prémio máximo.
Uma bola de futebol a sério.

Quando te passei a bola para as mãos, o tempo parou.

A bola saltou da palma da tua mão para o chão. 
Na ponta do pé, em ziguezague, em malabarismos tais...
Num repente fizemos as balizas, uma pedra
de cada lado.

Pela primeira vez perdi, sem me importar.
Só para te ver ganhar.

Declinava o dia.
Para mim nascia, brilhante repleto de vida,
ali, no nosso mundo de criança.



Ana de Melo

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