quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O repouso das guerreiras

Foto:josé alfredo almeida


Tudo muda, nada morre 
  

Ovídio


Parece estarem a impor à natureza o sorriso da vingança, as oliveiras. Esquecem-se que a sua imutabilidade lhes retira o encanto da renovação. Vestem a mesma roupa, faça frio, faça calor. Seja Verão ou Inverno. As folhas enfezadas só dão um ar da sua graça quando o vento lhes mostra o avesso. Ocupando-se delas, o lavrador não as afaga, sevicia-as:

                                                        Vergastadas, as oliveiras
                                             invejam árvores
                                             que dão fruto sem dor.

                                             in Hercília Agarez, As Asas da Libelinha


Cumpriram-se, as vinhas. Repousam as guerreiras feitas negro de cepas e de estacas de xisto. Contudo, na Primavera, competindo com outras fruteiras,  exibirão as suas folhas poligonais que crescem, que abrigam frutos, que mudam, vaidosas, de toilette, que sorriem, amarelas, ou roxas, ou castanhas, ou vermelhas, ou brique,  a quem, em êxtase, as lisonjeia.




Vila Real, 5 de Outubro de 2016
M. Hercília Agarez

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