sexta-feira, 21 de outubro de 2016

La maja desnuda *



    Partiste saciado. Vieste, amantado de noite, vais-te no alvor do dia. Como um fugitivo, acovardado. Vais e vens. Sabes que sempre te espero com o sabor adocicado da minha nudez madura e segura. Não me vendo. Dou-me. Não te cobro amor. Sinto-me paga com o prazer das tuas mãos macias percorrendo com vagar o cetim da minha pele. Apertas os meus seios de donzela à medida do seu côncavo, como quem avalia a autenticidade de uma pedra preciosa.

    Partiste. Partes, sempre. Voltas, sempre. Até quando? Aproveita o meu apogeu físico. Não és o homem dos meus dias, mas as minhas noites perdem o sentido sem o calor sensual do teu corpo rijo a entrar no meu, sorrateiro, com avidez suave e terna.

   Sigo-te, qual maja desnuda, com olhos de vigília. Segues apressado. Abençoa-te e absolve-te a luz matutina, ainda tímida e nem sempre cúmplice.


* Nome de quadro de Francisco de Goya pertencente ao Museu do Prado, Madrid.



Vila Real, 20 de Outubro de 2016
M. Hercília Agarez

2 comentários: