segunda-feira, 4 de abril de 2016

Barco Rabelo







[...] Macho da ladeira das águas, o barco rabelo ara rio acima: o homem do castelo, de rabiça nas mãos, escolhe o  rumo e o espírito do vento, o linho soprando, o sulco lavra nas águas. O feitor do leme conhece bem os passos e cantos do rio, que espia pelo espiadoiro, e não há rápido, ponto ou gola que não saiba, e qual o santo a assinalá-los e invocar. Poema simples e tosco, mas encorpado, musculado e destemido, que nem um viking, o rabelo, sem subjectividade, consciência de classe, proas e vaidades, é o verdadeiro ícone do esforço e do suor das águas, e do seu fim - carcaças a apodrecer: "mortos". De vela quadrangular panda, rio acima, ou de mastro despido, rio abaixo, a sua silhueta - envergadura grande e tosca, ventre livre ou prenhe de pipas, homem do remo do governo empoleirado no castelo e espadela que nunca mais acaba - enche o rio. E cálices pelo Mundo fora - Do you want to drink a Port Wine? - , de que nunca fez prova.

                   
                
António Manuel Caldeira Azevedo in Ode ao Douro

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