[...] Macho da ladeira das águas, o barco rabelo ara rio
acima: o homem do castelo, de rabiça nas mãos, escolhe o rumo e o espírito do vento, o linho soprando,
o sulco lavra nas águas. O feitor do leme conhece bem os passos e cantos do
rio, que espia pelo espiadoiro, e não há rápido, ponto ou gola que não saiba, e
qual o santo a assinalá-los e invocar. Poema simples e tosco, mas encorpado,
musculado e destemido, que nem um viking,
o rabelo, sem subjectividade, consciência de classe, proas e vaidades, é o
verdadeiro ícone do esforço e do suor das águas, e do seu fim - carcaças a
apodrecer: "mortos". De vela quadrangular panda, rio acima, ou de
mastro despido, rio abaixo, a sua silhueta - envergadura grande e tosca, ventre
livre ou prenhe de pipas, homem do remo do governo empoleirado no castelo e
espadela que nunca mais acaba - enche o rio. E cálices pelo Mundo fora - Do you want to drink a Port Wine? - , de
que nunca fez prova.
António
Manuel Caldeira Azevedo in Ode ao Douro
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