terça-feira, 19 de abril de 2016

Percursos da memória: Douro - Do Tua ao Côa





Desta vez, finalmente, VAMOS AO DOURO! Mais acertado seria dizer VOLTAMOS ao Douro, uma vez que já andamos às voltas pelo seu mundo, mas é agora que saímos para o caudal imenso para onde fluem as vias que já percorremos, água e ferro.
Vamos ao Douro ele mesmo, a água violenta entretanto parcialmente domada, o trabalho indomável do homem que criou os socalcos de vinha, o maravilhoso microcosmos adivinhado que levou ao aparecimento da primeira região demarcada vinhateira do mundo como tal, em 1756. As suas características e beleza únicas levaram ainda a UNESCO a torná-la Património da Humanidade em 14 de Dezembro de 2001, como paisagem cultural.
Vamos ao Douro de ferro, à sua via de 129 anos a fazer em Dezembro, e que como todas as linhas férreas nasceu da necessidade de abrir novos caminhos, para além do rio, de transporte das gentes, acesso e escoamento de produtos, importância acrescida pela internacionalização. Mas o declínio económico chegou também aqui e, em 1984-85, a Espanha encerra o tráfego ferroviário entre La Fregeneda e Barca d’Alva e em Portugal é encerrado o troço entre Barca d’Alva e o Pocinho a 18/10/1988. Os espanhóis mantiveram a linha desativada com categoria de monumento e Bem de Interesse Cultural, com inspeções regulares, enquanto o troço português foi praticamente abandonado até agora. Em Espanha foi já prometida a reativação da linha até Barca d’Alva, em Portugal paira a ameaça de encerramento da Régua ao Pocinho…
Vamos ao Douro de água e pedra desenhada, ao Côa, onde foi possível desencantar a sensibilidade e senso suficientes para impedir a construção de uma barragem em favor de umas gravuras que, em grande número, povoavam as penedias de xisto do vale, também ele belo e misterioso, constituindo apenas o “maior museu de arte rupestre ao ar livre” conhecido, datado do Paleolítico superior. Perante dificuldades e entraves, conseguiu classificar-se o monumento, que viria a ser acolhido pela UNESCO como Património da Humanidade, considerado “o mais antigo registo de actividade humana de gravação existente no mundo”. Foi criado o Parque Arqueológico do Côa e construído o Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa, vocacionado para a investigação, preservação, valorização e divulgação desses testemunhos e do património, objetivos da Fundação Parque Côa.
O Percurso começa em Foz Tua, viajando de comboio até ao Pocinho. Aí a linha em uso acaba (ali começava a do Sabor...). Continuaremos a pé desde o Pocinho até à estação de Foz Côa, e à estrada, onde o transporte nos conduzirá até à vila. Aí, após o almoço, nos esperará uma visita guiada ao Museu do Côa, uma vez que a visita às gravuras criaria um cenário incompatível com o formato, duração e participação do evento. Enalteceremos assim os três patrimónios percorridos, que bem poderiam ser integrados num só, o Douro uno e indivisível, um conceito de rede de vias e paisagem, de beleza e equilíbrio ímpares, que não se podem separar. Para trás deixamos três dessas vias, e parte de outra, perdidas. Com isto pretendemos também chamar a atenção para o conjunto que se perde e para o que pode, e deve, ainda ser recuperado!


1 comentário:

  1. Palavras ...bem ditas ..e escritas !!!
    E ainda bem !!!
    Talvez --alguém ..ouça , leia e pense ...
    Quem pode ..claro está !!!

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