sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Armanda




Armanda,
Há muitos anos, mesmo muitos, tantos quantos separam a vida da morte, o meu irmão, o pintor Nuno Barreto, disse-me: "António, retém este nome, Armanda Passos! Conheço-a muito bem. É uma pessoa rara. Uma pintora especial." Foi assim, minha cara Armanda, que a conheci. Por procuração. In absentia. Mas com a rigorosa certeza do Nuno.
Seu,


António Barreto
Lisboa, setembro de 2015





Gordas, bisbilhoteiras, intriguistas, secretas, poderosas, ameaçadoras, metediças, matronas, matreiras, doces, castas, voluptuosas e brincalhonas, as mulheres de Armanda organizam os nossos pesadelos e habitam os nossos sonhos. São as mulheres.
As mulheres de Armanda são fortes, determinadas, reservadas e misteriosas, guardam segredos e espalham rumores, tecem intrigas e contam boatos, povoam histórias que são os seus quadros. Somos nós.
Os olhos das mulheres de Armanda vêem, observam, fitam, investigam, meditam, dizem, ouvem, sentem, são negros e escuros, mas brilham na cor dos seus quadros, no céu dos seus fantasmas e na espessura dos seus sonhos. São os seus olhos. São nossos.
Os bichos de Armanda são divertidos e monstruosos, tiram do peixe e da ave, saem ao percevejo e à enguia, vêm do ornitorrinco e do okapi, parecem-se com sapos e alforrecas, assemelham-se a cangurus e abelharucos, são poéticos e terríficos, quase carinhosos e domésticos, invadiram os seus quadros e ficam por ali, a viver connosco, nunca mais nos largas… Quase ouvimos as suas gargalhadas provocadoras. São os outros.


António Barreto

1 comentário:

  1. Estou tão de acordo com António Barreto! Já há muito me tinha encontrado nos quadros de Armanda, mas ainda não tinha "arrumado" os bichos. Os que levei para casa, em duas serigrafias, andavam à solta pela casa.
    E vão continuar a andar :-)
    Foi mais um gosto, muito obrigada.

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