sábado, 26 de dezembro de 2015

João de Araújo Correia na Biblioteca dos Bombeiros





“Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca”
(Jorge Luís Borges)


Uma preocupação constante ao longo da obra de João de Araújo Correia é a preservação da memória. É em nome deste mesmo princípio que nos encontramos hoje aqui, para recordar o contributo que o nosso contista deu para que a Biblioteca dos Bombeiros da Régua se tornasse uma realidade e se mantivesse viva até aos nossos dias, recheada de livros raros e muito antigos.

O escritor João de Araújo Correia, nascido em 1 de Janeiro de 1899, ainda conheceu, por motivos familiares relacionados com as vivências do seu pai, os  primórdios da Corporação dos Bombeiros da Régua. António Correia, natural das Caldas do Moledo, homem de profissão liberal, solicitador encartado, um dos republicanos activos ou exaltados – quer dizer, dos históricos -  na então vila da Régua, foi dos primeiros cidadãos reguenses que, em 1880, se inscreveu como sócio activo da Associação Humanitária dos Bombeiros da Régua e integrou o corpo activo como bombeiro voluntário.

Na crónica “Recordações de Barro - Os Bombeiros”, do livro Manta de Farrapos, é o escritor que, abrindo o baú das recordações infantis, com emoção filial o recorda:

Meu pai tinha sido bombeiro voluntário. Mas, dotado por aí de lenta agilidade, sempre meticulosamente pausado, é crível que as obrigações de bombeiro, subir e descer escadas, enfiar-se pelo salva-vidas, aparecer, de agulheta em punho, em cima de um telhado, fossem incompatíveis com o seu eu, isto é, com o seu físico e o seu moral. Sei que pouco tempo foi bombeiro. Desertou do apito, mas, continuou ou fez-se contribuinte. Foi-o até à hora da morte.”

Quando, nos finais do séc. XIX, em 28 de Novembro de 1880, foi criada a Associação Humanitária dos Bombeiros da Régua, os seus fundadores, homens da elite da sociedade reguense, de um estrato social, cultural e económico privilegiado - proprietários vitivinícolas, comerciantes, funcionários públicos e liberais – decidiram que no seu quartel, então situado no Largo da Chafarica – hoje Largo dos Aviadores –, seria instalada, como lhe chamaram, uma casa de leitura, ou seja, uma pequena biblioteca para atrair os seus associados e, de uma forma geral, a população reguense.

O escritor ainda conheceu, como ele lhe chama, os inesquecíveis e quase imortais “bombeiros da velha guarda”. Lembra-se de ver a  “velha Bomba e de quem a movia e sustentava” e lembra-se de Afonso Soares, Camilo Guedes Castelo Branco, distintos comandantes, do José Avelino, do José Ruço, do José Maria Leite, o Riço, do Justino Lopes Nogueira, o Justino e as suas divertidas anedotas, e do Padre Manuel de Lacerda, capelão dos Bombeiros Régua.

Na referida crónica da Manta de Farrapos, o escritor retrata esse sacerdote falecido muito novo, aos 35 anos, como se, mais do que um representante do Reino de Deus, ele fosse um pastor da alegria e da fraternidade humanas:

“O Padre Manuel de Lacerda foi, de todos os tempos, o mais benquisto dos reguenses. Morreu de repente, enlutando num pronto a Régua toda. Lembro-me de o ver conversar com meu pai. Que fisionomia! Era uma espécie de coração visto por fora para melhor se adorar. Meu pai, que não era homem de muitas lágrimas, nunca o recordou, pela vida fora, com os olhos absolutamente secos.
Não se pode dizer que o Padre Manuel de Lacerda, como padre, tenha sido talhado pelo figurino que os cânones exigem. Mas, como homem, foi um santo homem, um homem alegre, que não podia ver pessoas mal dispostas nem arrenegadas umas com as outras. Onde soubesse que havia desavindos, fazia uma festa, promovia um banquete, fosse lá o que fosse, para os congraçar.”

Para melhor se conhecer o ambiente histórico, social e político em que a Associação foi gerada, os protagonistas mais activos e interventivos na vila da Régua que, a partir da criação da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, se tornou num empório comercial, temos de reler o escritor na crónica “Bombeiros da Velha Guarda” do livro Pátria Pequena:

“O quartel dos Bombeiros, situado ali em baixo, na Chafarica, no Largo dos Aviadores, como hoje se diz, era o clube da terra. Havia outro, mas aristocrático, presidido pelo monóculo do Dr. Costa Pinto. Clube, ponto de reunião sem preconceito, era o quartel dos Bombeiros. Ali se jogava e conversava à vontade. Ali se davam gargalhadas que faziam estremecer o quartel. Guarda-lhes o eco algum ouvido então adolescente…”

Como bem refere o escritor, já nesse primeiros anos, o quartel dos bombeiros da Régua não era só a casa dos bombeiros e uma casa das suas máquinas, era sobretudo um clube da terra, onde todos reguenses podiam frequentar para cavaquear, discutir a política do tempo e jogar jogos lícitos como às cartas e o quino. Assim, não admira que a abertura de uma sala de leitura fosse uma necessidade dos associados e dos contertúlios mais dedicados à leitura e que ali se reuniam à procura de novidades literárias e de informação de jornais e revistas. E, para isso, muito contribuíram as abastadas famílias reguenses - a Ferrerinha, sócia contribuinte nº1, os Vasques, os Barretos e os galegos Vasques Osório -, sem esquecer a influência dos líderes dominantes do partido regenerador, em maioria no concelho da Régua, do progressista e dos republicanos, em fase de organização, com uma voz de futuro no advogado Antão de Carvalho.

Sendo a missão principal do Bombeiros Voluntários do Peso da Régua “ socorrer os habitantes da vila e das povoações limítrofes por ocasião dos incêndios”, os estatutos da Associação, elaborados pelo Dr. Claudino de Morais – advogado e presidente da edilidade –, contemplaram no seu artº 4º como objectivo social a Associação ser também “recreativa”, havendo assim um espaço para “bilhares e mais jogos lícitos” e para uma “casa para leitura”,  apenas a ser concretizado “quando as circunstâncias especiais do cofre o permitam”. Com essa limitação de ordem financeira, o que se entende se tivermos em atenção que a Associação estando a dar os primeiros passos não teria mais que o magro subsídio da autarquia, espaço que no quartel seria reservado à sala de biblioteca, embora fosse uma prioridade e, nesse conturbado período histórico da regeneração, fosse considerado um veículo privilegiado para o enriquecimento moral e social do indivíduo, teria de aguardar alguns anos para se materializar.

E, na verdade, a Biblioteca dos Bombeiros da Régua veio a nascer em Janeiro de 1885, cinco anos depois da fundação da corporação. Quem o testemunhou foi o insigne jornalista José Afonso de Oliveira Soares na sua História da Vila e Concelho do Peso da Régua. Ao destacar como acontecimento marcante a sua inauguração, o ensaísta diz-nos que a sua criação se deveu ao desejo e à boa vontade de um seu contribuinte, assim como à muita iniciativa e valiosíssimos esforços do dr. Joaquim Correia Cardoso Monteiro.

Na crónica “Primórdios”, do livro Pátria Pequena, João de Araújo Correia, como o título indica, procura salientar a vetustez da Biblioteca dos Bombeiros da Régua, retoma o fio nebuloso da história narrada por Afonso Soares para lamentar a lacuna do seu trabalho:

“Pena é que o saudoso historiador da nossa vila e concelho não tenha nomeado o sócio-contribuinte que tanto desejou ver o nosso quartel espiritualizado com uma livraria. Dizemos tanto desejou, porque o seu desejo moveu a vontade do Dr. Joaquim Cardoso  Monteiro.
Devemos a um anónimo a fundação, em 1885, da nossa Biblioteca. Se soubéssemos o nome dele, seria obrigação perpetuar-lhe a memória com algum voto condigno. Como se não sabe, imagine-se quem foi o humilde benemérito. Algum obscuro artista, amigo da Instrução…”

Embora nesta crónica não nos tenha revelado a identidade do impulsionador da iniciativa, João de Araújo Correia mostra uma forte intuição ao idealizar o perfil daquele que ele entendia ser o suposto benemérito que fez nascer a Biblioteca dos Bombeiros da Régua. Ao traçar aquelas qualidades pessoais, João de Araújo Correia  dá a entender que esse obscuro artista e amigo da instrução,  poderia ser José  Afonso de Oliveira Soares, personalidade que ele conhecia e admirava na sua actividade de jornalista, escritor, desenhador, gravador, modelador e pintor, considerando que ele “fora tudo isso sem ser nada disso em grau superlativo.”   

Na verdade, hoje não temos dúvidas em afirmar que a iniciativa da biblioteca de partir de Afonso Soares, ele que, em 1892, após a morte de Manuel Maria de Magalhães, se tornou Comandante dos Bombeiros da Régua. Cremos que foi a sua humildade e modéstia que fez omitir o seu nome como o ilustre benemérito a quem se deve aquela preciosa primeira estante de livros.

De facto, foi o próprio historiador que, em 1930, num artigo publicado no jornal A Região Duriense, dedicado ao cinquentenário dos Bombeiros da Régua, desfez o mistério para o qual João de Araújo Correia não encontrou resposta.

Para além do alerta sobre a importância da data da fundação da desejada casa de leitura, este escritor deixou-nos ainda o seu testemunho sobre a estante inaugural. Na crónica “Uma velha estante”, publicada no Arrais em 1980, recorrendo à sua memória, descreve magistralmente esse embrião de biblioteca nestes termos:

“Quando o quartel dos nossos Bombeiros funcionou modestamente numa casa situada no actual Largo dos Aviadores, frequentei-lhe as salas recreativas com o meu pai - era eu rapazinho.
Na sala dos jogos, inofensivos jogos de cartas, dominó e quino, lembro-me de ver, encostada a uma parede, uma alta e larga estante de madeira rica, toda envidraçada e repleta de livros.
Creio que ninguém lhes tocava. Quem se entretinha com a sueca, o dominó e o quino talvez nem reparasse na volumosa estante, abarrotada de livros.
Reparava eu... E o meu regalo seria abrir aquela estante e colher de lá um livro para o folhear e ler antes de me deitar. Assim eu o percebesse. Era ainda tão novo… Teria onze, doze anos.
Os meus encantos, naquele clube, eram aquela estante. Mas, sempre fechada e muda. Até que uma noite, e em noites seguidas, a vi abrir. Um senhor, que usava óculos, ia retirando e colocando de novo, no seu lugar, rimas de volumes. Arrecadava-os depois de lhes escriturar os títulos num grande livro de papel almaço.”

Depois do acto fundador de Afonso Soares, seria necessário esperar por 1960 e pelo novo quartel para se abrir um novo capítulo na história da nossa biblioteca, no qual o antigo enamorado da “velha estante” desempenha um papel de relevo. É ele que, numa crónica intitulada “Dr. Maximiano Lemos”, incluída no Pátria pequena, informa:

“Querem os nossos bombeiros inaugurar quanto antes a sua biblioteca, renascida de velho armário repleto de livros sem catalogação, e querem dar-lhe o nome de Maximiano Lemos, fazendo coincidir o acto inaugural com o centenário natalício do nosso conterrâneo.”

Tal viria a acontecer no dia 3 de Dezembro, como, na edição desse mês, reporta o Vida por vida, o boletim da Associação Humanitária dos Bombeiros da Régua, na notícia “O centenário do Dr. Maximiano Lemos”:

“Logo após o almoço, procedeu-se à inauguração da nossa biblioteca, a que foi dado o nome do ilustre sábio reguense, como preito de homenagem da nossa Corporação. Foi orador oficial o Senhor Professor Alberto Saavedra (…). A apresentação foi feita pelo nosso Director, Senhor Dr. Camilo de Araújo Correia, tendo encerrado a sessão o Senhor Governador Civil”.

Sendo a homenagem ao “historiador da Medicina Portuguesa” “uma árvore que foi até hoje filha dos meus cuidados”, como escreve o nosso autor num telegrama citado na notícia atrás referida, não é difícil adivinhar de quem terá partido a ideia do patrono e da data da inauguração. A criação deste novo espaço de leitura, para além de promover a ilustração dos habitantes do concelho, permitiria também preservar a memória de um conterrâneo exemplar “cujo nome, de projecção internacional, se encontrava, na terra que lhe foi berço, envolvido nas brumas do semi-esquecimento”, ainda segundo o mesmo relato.

Criada a Biblioteca Dr. Maximiano Lemos, João de Araújo Correia não se deu por satisfeito e ei-lo a apelar, nas páginas do Vida por Vida, ao contributo dos reguenses para que a biblioteca fizesse justiça ao nome que tinha:

“Vamos, reguenses, aquelas estantes nuas precisam de ser preenchidas, para honra e glória dos Bombeiros, da vila da Régua – e dos que se interessam por, de qualquer forma, fazer da «Biblioteca de Maximiano Lemos» qualquer coisa que dignifique o nome ilustre do seu patrono.”

Não existindo na altura uma biblioteca municipal, que só viria a ser criada em 2006, muitos anos depois do incêndio que em 1937 deflagrou nos Paços do Concelho ter posto um ponto final na biblioteca que aí existia, compreende-se o empenho de João de Araújo Correia em promover esta inovadora biblioteca destinada a “provocar amor à cultura, à instrução, à educação das gerações”, em suma, dedicada, tal como os bombeiros, ao bem comum.

É novamente pela pena do autor de Contos bárbaros que nos chega mais um episódio da vida da Biblioteca dos Bombeiros: em 1963, na crónica “A biblioteca Maximiano de Lemos”, anuncia que, a partir desse ano, “vai funcionar, dentro da Biblioteca de Maximiano Lemos, uma das bibliotecas fixas da Fundação Gulbenkian”.

E assim aconteceu: no dia 28 de Novembro de 1963, com a presença do Dr. Domingos Monteiro, um escritor natural de Mesão Frio que se encontrava a representar a Fundação Calouste Gulbenkian, e demais entidades políticas e civis locais, aquela instituição cultural do nosso país inaugurava, no quartel dos Bombeiros da Régua, a sua Biblioteca Fixa nº 54, acrescentando à biblioteca já existente novos livros, novos autores e novas áreas do conhecimento.

Em linguagem actual, diríamos que, na perspectiva do escritor, esta fusão veio aumentar as valências da biblioteca criada em 1960, pois, enquanto a Biblioteca Maximiano de Lemos, “herdeira da primitiva estante dos bombeiros e acrescida de alguma oferta particular […] sempre conterá, como velha, embora pobre, alguma espécie rara, útil a estudiosos ou bibliófilos [, a] da Fundação, constituída por livros em barda e todos em folha, será útil ao comum dos leitores. Será própria para os desbravar e lhes estimular o gosto da leitura”.

Tinha razão João de Araújo Correia quanto às preciosidades provenientes da “velha estante”, entre as quais podemos apontar a Encyclopedia Portuguesa Illustrada- Dicionário Universal dirigida pelo médico Maximiano Lemos (1889), O Inferno, de Dante Alighieri, com ilustrações de Gustavo Doré (1887), o importante tratado de Viticultura e Vinicultura – Traz os Montes e Alto Douro Central, do Visconde De Vilarinho de S. Romão (1896), Canções da Tarde, do poeta reguense João de Lemos, o famoso romance Amor de Perdição – Memórias duma Família - Enriquecido de estudos especiais, de Camilo Castelo Branco (1892),  Os Deseherdados, da autoria do causídico lamecense Bernardino Zagalo (1912), O Génio do Christianismo, de M. de Chateubriand  (1854), e uma rara Bíblia Sacra, editada  em 1839.

 O aumento do número de volumes e o alcance social desta biblioteca renovada tornaram manifesta a necessidade de organização, indo o escritor ao ponto de sugerir a criação de um regulamento. Em seu entender, a Associação dos Bombeiros devia ser auxiliada pela sociedade civil, apelando por isso à colaboração dos “reguenses dados à leitura” e à criação do “Grupo dos Amigos da Biblioteca de Maximiano Lemos”.

Há razões para suspeitar que João de Araújo Correia não terá sido alheio a esta nova vida da Biblioteca de Maximiano Lemos. Sem sair do seu sagrado eremitério e com a ajuda dos seus amigos de Lisboa, terá conseguido convencer a Fundação Gulbenkian a instalar na Régua, mais propriamente no quartel dos seus bombeiros, uma das suas famosas bibliotecas.

Foi esta moderna Biblioteca dos Bombeiros da Régua que frequentei no meu tempo de adolescente, no final dos anos 70. A partir dos meus treze anos, tornou-se um lugar de passagem obrigatória, três ou quatro vezes por mês. Eu estava a iniciar-me nos livros, em novas leituras e autores desconhecidos que iam despertar a minha imaginação para lá das portas do pequeno mundo que, até àquele momento, estava ao meu alcance e me era visível da varanda da biblioteca.

Esta biblioteca ampliada e actualizada não tranquilizou João de Araújo Correia. Incansável, ciente da importância das origens, chama a atenção para a necessidade de preservar os seus volumes originais. Assim, é em nome dos “Primórdios” que, em 1963, lembra:

“Os livros privativos da Biblioteca de Maximiano Lemos são, quase todos, veneráveis. Contam, de idade, 78 anos. Necessitam de restauro, que só poderá ser feito por especialistas. Embora… É para nós ponto de fé que nos ajudem nesse empreendimento. Merece-o a ideia do sócio contribuinte de 1885.”

Dezassete anos mais tarde, na já referida crónica publicada no Arrais, o valor da estante que fez os encantos da sua meninice justifica a seguinte sugestão:

“A velha estante dos nossos bombeiros poderá prestar serviços a estudiosos se for catalogada. Mãos à obra? Agora, que os Bombeiros festejam o centenário, saúdo-os com este alvitre.

O percurso que, ao longo destes minutos, fizemos pela história daquela que ficou conhecida como a Biblioteca dos Bombeiros permite-nos retirar diversas conclusões:

1. A biblioteca dos bombeiros foi um projecto que nasceu com a Associação, embora só alguns anos depois tenha dado os primeiros passos. Neste sentido, a história da biblioteca é certamente um capítulo da história da própria corporação;

2. A biblioteca dos bombeiros foi um assunto de que João de Araújo Correia se ocupou ao longo da sua vida, com particular destaque nos textos coligidos no Pátria pequena, nos quais nenhum outro aspecto da vida dos bombeiros ocupa tanto a sua atenção, concebendo-a como prolongamento da missão humanitária dos “soldados da paz”;

3. A preocupação constante do escritor com a renovação da biblioteca, mas sem esquecer o valor dos seus exemplares mais antigos, traduz uma interessante harmonização do passado com o presente e o futuro;

4. Por tudo isto, podemos ver em João de Araújo Correia um intelectual activo que estimulou os seus concidadãos a manter no quartel dos bombeiros uma biblioteca que, durante muitos anos, foi a única de que várias gerações de leitores reguenses puderam usufruir. Nascida em 1885 do impulso inicial de Afonso Soares, João de Araújo Correia continuou a actividade do seu fundador, tanto como obreiro desta biblioteca, como enquanto seu historiador.

Em suma, evocar “João de Araújo Correia na Biblioteca dos bombeiros” é trazê-lo de volta a um espaço que é seu de pleno direito e onde queremos que ele permaneça. É também agradecer-lhe uma das dádivas desinteressadas à sua pátria bem amada, apesar da resistência que sempre encontrou.

A ele se aplicam as palavras de Camus, segundo as quais “A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente”. Nunca será demais reconhecer tal legado, até por que, como afirma José Tolentino de Mendonça “A gratidão constrói e reconstrói o mundo dentro e fora de nós”.


Régua, 12/04/2014
José Alfredo Almeida

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