terça-feira, 6 de outubro de 2015

Um poeta, dois Doiros

Foto:josé alfredo almeida



    Parece salpicado de pétalas de rosas brancas, esse caudal sonolento onde navega um TORGA. Homenagem dalgum admirador de um homem da região que se não cansou de o poetar, em prosa e em verso. Para ele era o Doiro: "...o meu rio - porque me orvalha o berço, porque reflecte a mais bela paisagem que conheço, porque é jovem, porque é uma realidade e um símbolo português, porque é peninsular". (Diário IX, 1963)
    Mas é outro o rio de hoje. A fera que a tecnologia amansou. O rio que escorraçou os rabelos e os seus arrais. Falta a este TORGA fluvial a vela quadrada prenha pelo vento, a espadela, lança afiada rasgando águas endemoninhadas. Influência dos barcos vikings ou pura coincidência?

Marcas de uma identidade aburguesada pelo progresso.

    Passaram dezasseis anos. Miguel Torga está em Freixo de Numão - 8 de Dezembro de 1979. E regista, descoroçoado, no Diário XIII:
   
     "O Doiro magro e viril, que ainda não há muito desci de barco rabelo e de credo  na boca, a saltar de sorvedouro em sorvedouro, ei-lo agora entoirido, manso, paralítico, passeado numa lancha a vapor, sem sobressaltos de qualquer ordem. Os homens são assim. Passam a vida a destruir levianamente os cachões onde experimentavam a valentia e os veleiros em que os venciam, e espanejam-se depois como patos marrecos nas águas podres da desilusão".

     Nesta e noutras matérias, João de Araújo Correia leu pela mesma cartilha...


      
                                                     
5 de Outubro de 2015
M. Hercília Agarez

1 comentário:

  1. Doiro...de dois "corações"...?
    "Doiro.".poema ".
    "Doiro".....cintilante.....
    beleza ..indescritível..!

    Quão,
    maravilhosa. ..brilhante ..a fotografia !

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