sábado, 7 de abril de 2018

Não a acordem




(...) O sonho é uma constante da vida
                                                                                              
António Gedeão



Deve ser tão bom o sonho que até parece que os lábios bem desenhados se entreabrem num sorriso, como flor a desabrochar.
Uma sesta requintada em cadeira de palhinha. Mesmo a dormir (ou a meditar) não perde a dignidade da postura feminina. A mão ampara-lhe, com naturalidade de quem posa, a cabeleira ondulada e farta, com um ou outro caracol atrevido a esgueira-se da macicez do penteado.
A sobriedade cromática e quente do casaco invernoso contrasta com a leveza esvoaçante e diáfana da écharpe, não agasalho, mas complemento estético, chique, que a moda, essa grande ditadora, impõe.

É o dolce far niente . É, quem sabe, uma atitude passiva e vazia, displicente,  de que fala Fernando Pessoa no poema "Liberdade":



                                               Ai que prazer
                                               Não cumprir um dever
                                               Ter um livro  para ler e não o fazer!



M.Hercília Agarez
Vila Real, 07 de Abril

1 comentário:

  1. Descrição minuciosa do retrato de uma desconhecida.
    Ai que prazer dar asas à fantasia!

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