terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Cheias na Régua








Quando me solicitaram que escrevesse sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e a sua ação aquando das cheias, rapidamente me ocorreu as inúmeras vezes em que, em conferências ou palestras, ao ser abordado o tema das cheias, surgia como diapositivo da apresentação, uma imagem dessa localidade, com as marcas assinaladas em prédios referentes às cheias de 1909 e 1962. A minha memória retém, também, imagens de visita à região por alturas das cheias de 2001.
Naquelas apresentações seguiam-se os conceitos - a distinção de cheia e de inundação, caudal, bacia hidrográfica, período de retorno, tempo de concentração, pico de cheia -, ou a influência da forma dos vales e da dimensão das bacias nas cheias. E, também, as práticas e técnicas culturais agrícolas e florestais adequadas ao aumento do tempo de concentração e as infraestruturas mais utilizadas na regularização do caudal do rio.
Numa pausa, transporto-me, pela memória, no tempo e no espaço, para a região do Douro, que tenho tido a oportunidade de conhecer. Sinto a força e intensidade do rio, das fragas e das gentes que tenazmente, com as suas mãos, moldaram uma paisagem de beleza ímpar e justamente classificada pela UNESCO como Património Mundial. 
Trabalho duro, com progressos e retrocessos, em que se evidencia sabedoria. Periodicamente assolada pelas cheias, além da força para se construir e reconstruir, sobressai a humildade de se terem reconhecido os naturais erros, de os corrigir, tendo-se criado, progressivamente, uma estrutura mais resiliente e preparada para a adversidade.
Mas, assim como a natureza nos dá essa notável capacidade de evoluir errando (se o mecanismo da dor não existisse, não seríamos hoje o que somos), também faz com que o tempo traga o esquecimento. Hoje, muitos jovens, nunca vivenciaram o tipo de cheias a que os seus pais, avós e a memória do povo aludem, não tendo, por isso, interiorizado, pela experiência, as atitudes e comportamentos para fazer face à adversidade.
(...)

Major-General Arnaldo Cruz
Ex-Presidente da Autoridade Nacional da Protecção Civil

1 comentário:

  1. Muito interessante e com valor como história documentada.
    Para além de tudo gosto muito da cidade da Régua onde vou várias vezes.
    Se estiver interessado pode ver o meu blog, embora de outro tema - http://www.valefumaca.blogspot.com

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