domingo, 7 de abril de 2019

Lá longe, ao cair da tarde

Foto:josé alfredo almeida


Lá longe, de mansinho, num lusco-fusco de luminosidade coruscante mas fugaz, instalou-se, num Douro de águas e montes, um crepúsculo surpreendente. O sol declinante sol, ainda cheio de genica, realça o acobreado de cumeadas pouco afeitas a estas tonalidades ruivas, ocres, fulvas, num indefinido de paleta a oscilar entre o ouro velho, a ferrugem jovem, o brique e o alaranjado. Com o céu por resplendor, com o rio por compadre corográfico, este conjunto, feito de harmonia pacífica, de graciosidade, de arrojo, é um desafio à sensibilidade e ao sentido estético de quem tem o privilégio de lhe pousar olhares de espanto.

Um convite a um pare e veja sem pressas. À concentração contemplativa e melancólica. À introspecção. À criação poética. A suspiros surdos de corações enamorados. E à oração, por que não. Que o reino de um Pai que nos dá o pão venha até nos, mais vezes, com esta magnificência. Que Ele não nos deixe cair na tentação de maldizer a obra de que foi Criador. E, se não for pedir muito, que perdoe as nossas ofensas: faltas de civismo, negligências, adulteração paisagística, em nome de todos os progressos, de todos os interesses económicos, de todos os caprichos. 


M. Hercília Agarez
Vila Real, 07 de Abril

3 comentários:

  1. Apanhar um momento nas redes da eternidade: privilégio ou dom? Um ou outro, que sejam. Raros, que são.

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  2. O BELO que se eterniza ..!?
    ..Olhar que olha ..e "vê "
    ..UM POEMA ..RARO ..BELO..!!

    O TEXTO..É DELICIOSO !!!



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  3. A beleza da fotografia, junta-se harmoniosamente com a beleza da escrita.

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