segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Piscina natural

Foto:josé alfredo almeida


 
         Caiu numa emboscada. Traiçoeiramente, foi feito prisioneiro pelas suas bordas brincalhonas. Quanto elas se divertiram ao vê-lo, como barata tonta, a andar de trás para a frente, de um lado para o outro, em busca de uma saída, como Ícaro no labirinto de Creta! Ninguém lhe acudiu. Só se fosse algum habitante da primorosa casinha branca que assomasse à janela. Mas qual o quê? A lição da paisagem está sabida e ressabida, de cor e salteada. 

    Estranguladas, as águas espernearam sem compostura. Quis consolá-las uma neblina dúctil, etérea. Desceu de mansinho, pousou-lhes em cima o seu branco acinzentado. Acalmaram com as carícias. E serenaram. A tal ponto que resolveram permanecer, naquele propósito, feitas piscina. O caudal longilíneo arredondou-se, em geometria de fraco aluno, a fazer pendant com as curvas enjoativas de estradas do tempo do outro senhor…




M. Hercília Agarez
07 Janeiro de 2019

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