domingo, 27 de janeiro de 2019

Para sempre





  Gente nossa. Das nossas berças durienses. Gente de trabalho sem a qual Douro não dá vinho. Um saber de saber ser feliz com pouco. Uma modéstia de condição. De nascença. De destino. Melhores ventos soprem no tempo dos filhos a vir.

    Um homem com a sua mulher. Um senhor com a sua senhora. Em aprumo honesto. Companheiros para a vida. Partilha de fadigas, de cansaços, de despertares para novo dia de jorna. Pensamento num futuro. Ambos unidos em luta que passou de singular a plural. Porque tudo vale a pena. Porque a alma deles não é pequena.

    Um homem jovem veste, pela segunda fez, fato de juras e de promessas. Uso, só deu aos sapatos, mais apertados do que socos de calcanhar à mostra. Uma mulher jovem. A roupa do casamento, os sapatos do casamento, tudo está a bom recato. Foi de branco, claro. Pobre, mas honrada.

    Foram à vila tirar uma fotografia de casados. Memória a ficar de uma história ainda sem história. Mão feminina em ombro masculino. Ternura sobre amparo.

    O cenário é enganador. O fotógrafo, um tanto naïf, quis enquadrar os fotografados em ambiente idílico. Mas onde está o Douro que lhes dá o pão? Ah! Esse está misturado com o sangue que se lhes passeia nas veias.



M.Hercília Agarez
27de Janeiro de 2019

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