domingo, 11 de novembro de 2018

Pintar o Douro

Pintura de Mónica Baldaque 



"Com esta exposição aqui na Régua, homenageio meu Pai, Alberto Luís, sepultado há justamente um ano, no cemitério de Godim.
Com ele aprendi a ver a Pintura, a desenhar, a olhar a paisagem - nosso cenário dos dias da nossa vida.
Ensinou-me que a paisagem fala, tem voz, tem humores, sente, como um coração de selva, e alia-se a nós como confidente e guardadora de memórias e de sentimentos.
A paisagem do Douro é uma "pessoa" na minha vida. Viu-me crescer, brincou comigo, ensinou-me o riso que se perde em eco nas montanhas, e as lágrimas que a terra engole, e descem até às raízes das vinhas, dos laranjais. As raízes são os pensamentos que as plantas guardam e que as alimentam.

Eu caminhava devagar, descalça, pelos bardos da terra quente, e sentia-me segura, tranquila, o estado da felicidade era mágico e absoluto. Como se a vida secreta da terra me possuísse e me revelasse o mistério da vida, como ninguém mais era capaz de o fazer.
Não me canso de pintar a terra do Douro - o que vejo e sinto. Volto sempre a ela, como quem volta ao lugar do Paraíso. E cada quadro que pinto é como um ex-voto, uma promessa de gratidão eterna.
O rio, às vezes cor prata-chumbo, as vinhas em socalcos, alinhadas como pregueados de alta-costura, o céu, rasgado pelos cimos dos montes, tudo são sinais que eu transmito às minhas telas, a minha paleta, ao meu discurso.
Quem me entende?
Não importa..."


Mónica Baldaque
Peso da Régua, 10 de Novembro
in Cátologo  da Exposição de Pintura   

1 comentário:

  1. ..Tão "belas TELAS ..eu pude olhar...

    E um coração ..enternecido..grandioso..dentro DELAS ..!!

    FOI EMOCIONANTE !!


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