domingo, 25 de novembro de 2018

Cada qual é para o que nasce...

Foto:josé alfredo almeida




Paira a melancolia
em crepúsculos outonais:
finitude.


Cada qual é para o que nasce… Até para ser folha é preciso ter sorte… Nós, neste mais um outono, estamos feias, encarquilhadas, ressequidas, pasmadas, como mulheres a quem o trabalho sulcou os rostos, antes da velhice. Numa pobreza irremediada de cores e de formas, não nos resta senão conformarmo-nos com debilidade sem viço e sem brilho.
Cá de um alto agreste e madrasto, olhamos as nossas colegas fluorescentes, ainda presas por um fio ou já cobrindo chãos rurais e urbanos, em irrecusáveis convites a sorrirem para a fotografia. E mesmo, no caso dos plátanos, a deixarem-se apanhar, todas convencidas, por mãos românticas que as põem a secar em felizardas páginas de livros. Secas, manterão o charme e ganharão o estatuto de marcadores. Das parras, nem falamos. Essas usam e abusam dos dotes camaleónicos. Até ao último suspiro (belas, mas mortais…), os seus cambiantes outonais são a festa da folha, antecedida da euforia dos frutos, meninos dos olhos de região onde nem só o rio reina.



M. Hercília Agarez 
Vila Real, 25 de Novembro de 2018

2 comentários:

  1. ..Tudo tem o seu tempo ..o seu lugar ..
    ..a sua plenitude..
    ..E usufruir ..de um momento ..como ESTE...!!

    É SUBLIME...!

    ResponderEliminar