segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

120º aniversário da Cruz Branca

Corpo activo dos BV de Salvação Pública-Vila Real,1897


Falo em nome da direcção da Associação de Bombeiros Voluntários de Salvação Pública e Cruz Branca, que me mandatou para vos dirigir umas breves palavras pelo facto de, há 120 anos, fazer parte do grupo dos seus fundadores Francisco Ferreira da Costa Agarez, meu avô. O envolvimento activo da família teve seguimento, e é com orgulho que invoco o meu pai, Alcídio Agarez, o primeiro (ou dos primeiros) a conduzir a primeira ambulância, pois teve carta de condução aos 18 anos.
Começo por manifestar o nosso agradecimento a quantos tornaram possível esta exposição, o melhor presente que podia ser-nos oferecido. Obrigados Senhor Presidente da Câmara, Sr. Dr. Vitor Nogueira, director do Museu do Som e da Imagem, Senhor Duarte Carvalho seu dinamizador. Obrigados a quantos colaboraram nesta iniciativa meritória. Merecem-na os nossos bombeiros e os seus corpos sociais. Merece-a a cidade que sempre acarinhou os "bombeiros" de baixo a que os mais antigos continuam a chamar assim, mesmo depois de o quartel ter dado um grande salto, ficando acima dos bombeiros de cima (leia-se Cruz Verde).
A história de uma instituição idosa (mas não velha) não cabe nas páginas de um livro, nem em espaços museológicos ou expositivos. Duarte Carvalho, contudo, com o seu entusiasmo por tudo o que a Vila Real  diz respeito e com a sua dedicação e profissionalismo enquanto responsável por este espaço, proporciona ao nosso olhar uma retrospectiva criteriosa e marcante em termos identitários do que foi a Cruz Branca num passado em que sobressaíram heróis como o bombeiro Porfírio, dirigentes qualificados, comandantes interventivos, figuras tão queridas como o Senhor Padre Filipe, primeiro capelão da história das corporações humanitárias, o jornalista polémico, farmacêutico e comandante  Heitor Correia de Matos, o inspirado autor de peças para os saraus e apaixonado fotógrafo, Aquiles de Almeida, para não me alongar.
Não sei quem baptizou os bombeiros de "soldados da paz", mas atrevo-me a discordar. Será pacifica a sua actividade? Uma floresta a arder descontroladamente não será um teatro de guerra? Eles não usam espingardas, mas agulhetas e machados, e cordas e capacetes e escadas. Não vestem camuflados. Com as suas fardas de trabalho levam cor a ambientes onde impera o negro do desespero. As chaimites deles são as ambulâncias, os carros de socorro a fogos urbanos e florestais, os barcos das equipas de mergulho. Os seus inimigos são chamas destruidoras de bens e de animais, de pessoas até. São as neves do Marão e do Alvão. As águas do Corgo e do Douro. As quedas de água de Ermelo. Os acidentes rodoviários. As doenças de idosos desprotegidos, em aldeias recônditas, sem outro meio de transporte para tratamentos que não sejam os veículos específicos habituados a todos os terrenos e a todos os sofrimentos. As armas dos bombeiros são a sua disponibilidade, a sua entrega à missão filantrópica, o seu espírito de sacrifício, a sua coragem, a sua capacidade de secundarizar a família e a vida social  perante o cumprimento de uma obrigação-devoção. Dos bombeiros se espera que sejam tábuas de salvação. Por isso eles são, também,  enfermeiros e parteiros e desencarceradores e abridores de portas, e mágicos que fazem desaparecer águas de inundações. E muito, muito mais.
Os vila-realenses sabem que podem contar connosco. Como recompensa dos serviços prestados, contentam-se as nossas bombeiras e os nossos bombeiros com um sorriso dos socorridos, com uma palavra tão simples como obrigado.
E é com um sentido e comovido obrigado que reiteramos a nossa  gratidão por este momento inesquecível a arquivar num cantinho recatado da nossa memória.



M. Hercília Agarez, Vila Real, 6 de Janeiro de 2017

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