quinta-feira, 25 de junho de 2015

Gato preto

Foto: josé alfredo almeida




Só me sinto bem sozinho, longe do bulício do centro da cidade. Tive um desgosto de amor. Eu conto. Namorava com uma gata branca, felpuda e fofa como sumaúma. Ela não era racista e toda se requebrava com as minhas lambedelas. Para não falar do resto. Excitava-a o verde fosforescente dos meus olhos e entregava-se ao amor com um prazer desinibido.
Ontem, quando me preparava psicologicamente para ir pedir-lhe a pata em casamento, veio ter comigo, remelosa de tanto chorar, e declarou-me, num miau sofrido, não querer oficializar a relação. Explicou. A Mimosa, sua vizinha e confidente, dissera-lhe que tinha vindo morar para o bairro um homem carrancudo e supersticioso que matava quanto gato preto se cruzasse com ele. Se ficasse viúva, teria de pôr luto, logo ficava, também, preta...


M. Hercília Agarez

1 comentário:

  1. "Relevante" ..com um encanto ....invulgar ,,
    mas tão "terno" ..
    Gostei ,,

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