sábado, 8 de setembro de 2018

Vou à Régua!




Lembro-me, que as pessoas que moravam afastadas do centro da Régua, quando queriam ir à Rua dos Camilos, diziam:
Vou à Régua!

No tempo da minha infância a Rua dos Camilos era um mundo
.

Começo pela Casa do Douro
. Naquele tempo, não compreendia a sua importância.
A sua arquitectura imponente, fazia-me lembrar alguns edifícios de Bancos que eu via nos filmes da televisão, aos domingos à tarde.

Ali havia lojas de fazenda a retalho, dizem que tudo da melhor qualidade.
Papelarias/livrarias, cafés, não posso deixar de falar no "Café Imperial" que o meu Avô frequentava diariamente para tomar a bica e conversar com os amigos.
Pastelarias/confeitarias o Grande Ponto e o Pinheiro.

Quantas vezes, ainda hoje ao entrar numa confeitaria ou café,
vêm-me à memoria odores felizes desses tempos.

Os Correios, onde eu gostava de entrar.
Porque enviavam e registavam cartas, recebiam encomendas... Um lugar de comunicação.
O prédio da Pensão Douro, que era propriedade de pessoas com laços a familiares meus, que eu frequentei em criança e me fascinava pela sua beleza e grandeza interior.
O Bazar, montra de sonhos que nem sempre se podiam realizar de imediato, mas eu sabia esperar e também, que o sonho é meio caminho andado.

Na Rua dos Camilos viviam algumas amigas de escola, algumas vezes brinquei na casa delas, de onde guardo as melhores recordações.

Nas noites de Verão ia com a minha família passear e depois mais acima até à Alameda.
Gostava das luzes azuis e rosa das lojas, lembro-me de uma sapataria, não sei se "Sapataria Filipe"? Ficava a olhar os sapatos espalhados artisticamente pelo meio da loja em cima das caixas, tudo a reluzir.
Para mim, tudo isso era de uma beleza enorme. Como uma festa.

Era o meu caminho desde que fui para a escola primária,não me posso esquecer da padaria antes de virar para o Largo dos Aviadores e dos seus pães com açúcar por cima...

A meio do mês de Agosto, as
pessoas de Fé enchiam a ruas
, as casas engalanavam-se de colchas de várias cores nas janelas e varandas, para ver passar a procissão da N. Senhora do Socorro.
Um dia fui na procissão na minha comunhão solene,
lembro-me da minha professora D. Lu
ísa Janeiro, estar na varanda e acenar-me, recordo este episódio porque gostava dela.

Há tantas coisas sempre para falar de um tempo,em que tudo conta, como aprendizagem...
Nada disto teria significado, sem a minha família, alicerce da minha vida.
E sem as minhas companheiras de caminho para a escola, sem esquecer as que moravam depois da Rua dos Camilos ...

Tudo o que os meus olhos viram e o meu coração sentiu, ficou aqui dentro de mim, fechado a chave d'
ouro, para sempre.



Ana de Melo

3 comentários:

  1. ..E uma outra "história " de VIDA,,..
    num belo..excerto de ANA de MELO..

    Recordar ..é VIVER ..

    Guardar ..no coração..
    ternura que ninguém ..nos pode tirar !!

    ...
    ..

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  2. Muito bonitas todas as recordações de uma Régua antiga algo
    diferente da actual. Das vezes que fui à Régua, não muitas,
    gostei de passear na R. dos Camilos. Das lojinhas, dos Correios
    e de espreitar o rio, sempre tão azul. Gostei muito do seu texto!
    E guarde para sempre essa preciosa chave d´ouro.

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