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Foto:josé alfredo almeida |
Enganou-se no calendário. Ou ousou
desrespeitá-lo. Sabe, bem de mais, que desde que a vinha é vinha, tudo nela tem
o seu timing. O das parras, por exemplo. Tímidos e promissores rebentos
renascem das negras e retorcidas cepas. É a Primavera de todos os verdes, de
todas as folhas a crescer a olhos vistos.
Ao atingirem a maioridade, as folhas das
vinhas são mães protectoras de bagos-bebés, adolescentes e adultos. Antes de se
vangloriarem dos seus tons pastel, gozam a verdura de mantos diáfanos, imagens
de marca de zonas vinhateiras.
Esta atrevida aterrou sozinha. As
companheiras, sendo mais jovens, dão prova de bom senso maduro. Não pretendem
entrar em cena antes do tempo. Olham-na de esguelha, com surpresa displicente.
E humilham-na, fazem-na sentir deslocada na sua toilette outonal em plena
homogeneidade verde de Agosto. Não terá par para o tango. É o preço da ânsia de
protagonismo.
M. Hercília Agarez
Vila Real, 20 de Setembro de 2018