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Foo:josé alfredo almeida |
segunda-feira, 31 de julho de 2017
Fastos
O Verão cantava sobre a sua rocha preferida
quando tu me apareceste,
o Verão cantava afastado de nós
que éramos silêncio,
simpatia, liberdade triste,
mar
mais ainda do que o mar,
cuja enorme comporta azul
brincava aos nossos pés.
O Verão cantava
e o teu coração nadava longe dele.
Eu beijava a tua coragem,
entendia a tua perturbação.
Estrada através do absoluto das vagas
em direcção a esses altos picos de escuma
onde navegam virtudes assassinas
para as mãos que seguram as nossas casas.
Não éramos crédulos.
Éramos rodeados.
Os anos passaram.
As tempestades morreram.
O mundo partiu.
Sofria
por sentir que era o teu coração que já não me conhecia.
Eu amava-te.
Na minha ausência de rosto e no meu vazio de felicidade.
Eu amava-te, mudando em tudo,
fiel a ti.
René Char
domingo, 30 de julho de 2017
Só o teu nome
O
amor.
Pode
ser um delírio, uma vertigem, uma palavra apenas.
Uma
promessa por cumprir.
Do
passado, no fundo de uma gaveta esta foto tirada por ti.
Eu
já não sei se sonhei essa manhã, se inventei as suas cores...
O
teu nome, só o teu nome me parece real nos meus lábios.
Como
se fosse um castigo.
Ana de Melo
sexta-feira, 28 de julho de 2017
quinta-feira, 27 de julho de 2017
Tão pouco
"Foste importante ...
és importante para mim...
e dói esta ausência...
esta distância...
não sou má pessoa, não sou mesmo má pessoa
e não te quero mal,
tocaste-me a alma e por isso sofro... "
de uma carta de s.
Agora deixai-me partir
Pesaria tão pouco sobre as águas
Levaria tão pouca coisa
Alguns rostos o céu de Verão
Uma rosa aberta
Anne Perrier
quarta-feira, 26 de julho de 2017
Longe do coração
Esquece-te de mim, Amor,
das delícias que vivemos
na penumbra daquela casa
Esquece-te.
Faz por esquecer
o momento em que chegámos,
assim como eu esqueço
que partiste
mal chegamos,
para te esqueceres de mim,
esquecido já
de alguma vez
termos chegado.
António Mega Ferreira
terça-feira, 25 de julho de 2017
segunda-feira, 24 de julho de 2017
domingo, 23 de julho de 2017
sábado, 22 de julho de 2017
sexta-feira, 21 de julho de 2017
quinta-feira, 20 de julho de 2017
BARCA VELHA - Histórias de um vinho
BARCA VELHA - Histórias de um vinho
Autor: Ana Sofia Fonseca
Editora: Oficina do Livro/2017
«É mais difícil ir ao Meão do que a Luanda», diz Nicolau de Almeida
neste livro belíssimo de Ana Sofia Fonseca. Eu compreendo-o bem. Nasci
muito perto do Meão, alias da Quinta do Vale Meão, referência completa
no mapa da região. Vivi no Pocinho os dias mais felizes da minha
infância — ali, onde se colhiam as uvas e se preparava o Barca Velha, e
onde era mais difícil chegar do que a Luanda. Compreendo bem o lamento.
Ainda hoje é difícil chegar por estrada a esse ponto do mapa onde o
calor de Agosto é mais do que uma ameaça: nuvens de poeira e nuvens de
calor confundem-se, os termómetros ultrapassam com frequência os 40
graus centígrados, o ruído das cigarras é mais ensurdecedor do que nos
romances que falavam do assunto, a noite chega como uma promessa de
alívio. Nessa hora logo depois do crepúsculo esperava-se que a brisa que
envolvia a aldeia passasse pelo leito do rio antes de subir para as
colinas. Era, repito, a única promessa de alívio - a menos que surgissem
sob os picos dos montes (na Lousa, em Sto. Amaro, para os lados das
Mós, vindas de Numão) umas nuvens que sugeriam chuva.
Mais tarde,
quando aprendi o significado exacto da expressão «chuva tropical»,
lembrei-me do Pocinho, lembrei-me da Quinta do Campo submersa nessa
neblina azulada que se confundia com a curva do rio, diante da Quinta do
Reguengo, lembrei-me da planície inclinada de vinhas da Quinta do Vale
Meão, lembrei-me dos vultos dos pequenos barcos de pescadores fluviais
sob a velha ponte de ferro por onde passava um comboio alegre e
saltitante a caminho de Miranda do Douro, preparando-se para subir por
entre falésias, reentrâncias, sombras, tufos de mato, ate Moncorvo.
As
minhas memórias do vinho do Douro têm a ver com esse cenário. Não é por
acaso que ele aparece logo a abrir o livro de Ana Sofia Fonseca. O
vinho do Douro sempre me pareceu um milagre. O aroma de mosto cruzando
os ares em meados e finais de Setembro, misturado com os últimos tons
vivos das amendoeiras, com os picos cobertos de zimbro, com o ruído dos
comboios que circulavam entre a Barca d'Alva e o Porto. E havia aquela
música ininteligível, certamente: a das vindimas, a dos trabalhos no
socalco, iluminada pela luz fantástica do Douro, entrando pelos pomares,
pelas hortas, pelos olivais e amendoais, atravessando a sombra dos
choupos, os juncos à beira da água.
O Douro, por isso tudo, é um
rio habituado a ver milagres. Se não existe uma explicação racional,
sociológica, histórica, económica, eu encontro essa - que me serve
perfeitamente: trata-se de um milagre. Certamente que a história do
vinho do Douro, e a do Vinho do Porto muito mais, explica-se por
dinastias de gente atrevida que experimentou, inventou e recriou
sabedorias ancestrais até conseguir a bebida que vem em todos os grandes
poetas desde a Antiguidade, exagerada pelo êxtase.
Para quem
viaja ao longo do Douro no velho comboio — que hoje parece condenado ao
desaparecimento - essa historia de milagres parece uma coisa romântica.
De certo modo, é. As quintas estacionadas a meio das colinas, os
ancoradouros presos às falésias, as pequenas baías em lugares
insuspeitos, ribeiros que desaguam de repente (vindos da Beira - de um
lado - ou de Trás-os-Montes - do outro), pontes que atravessaram o
século para que nos habituássemos à sua imagem, tudo isso esta povoado
de uma mitologia particular, que é romântica, e, ao mesmo tempo, de uma
história de sofrimentos. Só assim se compreende a humaníssima natureza
daqueles socalcos talhados a mão, inclinados sobre o rio.
A quem
escreve sobre vinhos, sobre os seus sabores, sobre o carácter delituoso
do vinho, eu recomendo sempre uma viagem ao longo do Douro. Quando mais
não seja para confirmar a justeza dessa frase que o leitor encontrará
daqui a algumas paginas: «É mais difícil ir ao Meão do que a Luanda.»
James Murphy, um interessante inglês que viajou por Portugal no século
XVIII (e publicou mesmo as suas impressões num Travels in Portugal),
escreveu que «um português pode fretar um navio para o Brasil com menos
dificuldade do que Ihe é preciso para ir a cavalo de Lisboa ao Porto».
Imaginem-se agora as dificuldades quase intransponíveis que se Ihe
ofereciam para ir ao Meão.
Não foi por isso que os ingleses
deixaram de se interessar pelo Douro e que, alguns, como o lendário
Barão de Forrester, se fixaram nas margens do rio dos milagres. Eu
chamo-lhe rio dos milagres a esse rio que engoliu o Barão no cachão da
Valeira - e tenho algumas razões. Uma delas tem a ver com o vinho. O
poeta Ibris ben-al-Yaman, que viveu no Al-Andaluz do século XI, associou
o vinho à arte de voar - os corpos cheios de vinho estariam, afinal,
cheios de espíritos. O Douro favorece esse contacto entre os homens e os
espíritos: a doçura contagiante do seu vinho é calorosa e romântica,
para dar razão a um dos meus grandes autores, Arquíloco, que - a
propósito do vinho, da sua prova - falava de «um raio a deflagrar no
espírito». Um vinho prodigioso como o do Douro, rescendendo a tudo o que
a terra inventou para nos separar do que é acessório, merece que
invoquemos os clássicos, muito mais do que as lengalengas dos académicos
que visitam as adegas com o compêndio atado à cintura. Por isso é quase
brutal a visita que Ana Sofia Fonseca faz junto deste nome: Nicolau de
Almeida - um mago cujo inimitável trabalho merece distinção e prémio.
Nenhuma
filoxera poderia fazer esquecer o seu trabalho e a sua criação. É certo
que (e isto é a minha opinião de regionalista) o Douro favorece a sua
competência olfactiva. O rio dos milagres transporta todos os frutos e
todos os aromas. Eu acrescentaria isso ao que Ana Sofia Fonseca refere
como a tríade de competências necessárias a um enólogo de excepção, um
dos nossos génios, como Soares Franco: «Amor pelo ofício; nariz
sensível, dom ganho à nascença e intimamente relacionado com a condição
física e intelectual de cada um e, por fim, um bom mestre.»
O
Barca Velha faz parte daquilo que o Douro não pode dispensar. Mais do
que isso: é uma das glórias do Douro, só possível com essa contribuição
de homens como os Nicolau de Almeida, os Soares Franco - a eles devemos a
construção de uma mitologia danada, inscrita nas águas do rio dos
milagres e nas tentações de quem ama verdadeiramente o seu ofício. É
certo que cada papila procura a sua salvação num vinho diferente do
outro — mas o Barca Velha, com o seu rasto de afrontas ao país pequenino
e vulgar (ultrapassando-o, humilhando-o, e à sua mediocridade), é obra
de génio. A vasta literatura sobre a idade madura dos vinhos Portugueses
nunca ficaria completa sem o tributo a prestar aos vinhos do Meão, aos
velhos e aos novos.
De cada vez que visito a minha terra, de cada
vez que desço aquela estrada de Foz Côa (onde, de facto, nasci) para o
Pocinho de todas as minhas infâncias, procuro identificar as vinhas. O
rio já é outro. Já não é o imenso espelho rodeando a curva das Frieiras,
junto às Cortes - uma barragem interrompeu-lhe o curso, moderando a
corrente, para cá do Meão. Muitas vezes ia a pé entre o Pocinho e as
correntes de Almendra e Castelo Melhor e apreciava essas vinhas. Sempre
me pareceu que se desprendia, dali, um aroma que antecipava o «raio a
deflagrar no espírito» que se lê em Arquíloco. O rio já não recebe, nas
suas margens, as sombras salvadoras dos choupos e das oliveiras do
Pocinho, dos seus pomares magníficos, avantajados - apenas o calor
imenso, o calor que entorpece, o ruído das cigarras nas colinas. Ana
Sofia Fonseca presta uma inestimável homenagem à minha terra e ao rio
dos milagres falando de um vinho que se devia associar à nossa cultura
mais profunda e mais erudita. O Barca Velha é um trabalho de erudição,
evidentemente. Dispensando os sufrágios das academias, ele entra nos
nossos dicionários como sinónimo de poesia «os vinhos odoríferos», de
que falava Camões, mas também os vinhos com «mais alma que muito poema
ou livro santo», como escrevia Eça, da mais intensa, da mais
inesquecível. Na sua história está a história de uma paixão pelo vinho e
de uma obra de cultura.
Diz-se, na tradição bíblica, que Noé se
dedicou a plantar vinhas depois de ter sobrevivido ao dilúvio. Os vários
dilúvios do Douro, certamente divinos, por serem tão intensos e tão
inesperados, não interromperam essa alquimia que tornou possível o Barca
Velha. A nossa alma tem enorme divida de gratidão para com os seus
criadores.
(Prefácio ao livro “Barca Velha – Histórias de um vinho” )
segunda-feira, 17 de julho de 2017
Eternamente Douro-94
domingo, 16 de julho de 2017
Quase um poema de amor
"pedi tanto a Deus para esquecer...
para esquecer de mim, para esquecer de ti... "
uma carta de s.
Passo
bem sem a luz dos teus olhos. Luz da minha vida...
Os
teus beijos, o que têm os teus beijos que me impedem de pensar?
Acabaram
as promessas.
As
discussões acesas e as pazes.
O
tempo que nunca tens para me veres de verdade.
Não
me digas por favor, que eu não vou saber viver e que mais ninguém me vai amar,
como tu.
Tantas
vezes acabamos...
E
depois as promessas e os beijos.
Os
teus beijos de feitiço que não me deixam pensar...
Eu
volto, volto sempre a acreditar.
E
tu não me vês,
mais
uma vez não me ouves.
Não
te perguntas, se o que eu quero é aquilo que tu queres.
Mas
eu só te quero a ti.
Tão
meu.
Tão
meu amor...
Tu,
a
liberdade.
O
estar e o partir.
O
pavor do compromisso.
Acabou.
Ponto final.
Ah,
os teus beijos... Como vou viver sem eles.
Sem
a luz do teu olhar, o teu sorriso, o incêndio na palma das tuas mãos?
Acabou.
Não
há mais nada a dizer, meu amor, meu amor...
Ana de Melo
sábado, 15 de julho de 2017
sexta-feira, 14 de julho de 2017
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