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Foto:josé alfredo almeida |
sábado, 30 de setembro de 2017
Diz à tristeza
Diz à tristeza que os dias amam o teu sorriso
e convence-a de que as horas que passas
de acordo com o oblíquo dos ponteiros do tempo
toldam a agonia.
Diz-lhe que permanecerás fiel ao teu sorriso
e aos segundos breves mas felizes
Diz-lhe, convence-a de que permanecerás fiel ao teu sorriso
... e ao meu.
Dúlia Soares
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
O nosso rio
Era Verão.
Sujava o meu vestido de propósito, só para que enquanto
secasse, eu pudesse ficar mais um pouco junto a ti. (Entretanto, a tua mãe
emprestava-me um dos teus).
Havia um rio a passar perante nós. E os teus olhos
sonhadores, eram como barcos que me levavam mais longe.
Era Verão, era sempre Verão…
E nós descobríamos o sentido da amizade.
Entre vinhas e quintais, entre mil brincadeiras, entre
pedras “atiradas” aos rapazes, entre livros que ambas abraçávamos aos Sábados à
tarde, à saída da biblioteca dos Bombeiros.
Penso que tudo o que ali vivemos, foram tempos de ouro.
Como o rio.
O nosso rio.
Ana de Melo
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
Eternamente Régua
terça-feira, 26 de setembro de 2017
Guardas tudo de mim
Guardas tudo de mim–
não sei se entendes
a ternura da dádiva –
também não te pergunto…
Para quê?O meu amor é isto:
desejar-te em segredo
pouco esperar do que vier de ti
E nada te pedir.
não sei se entendes
a ternura da dádiva –
também não te pergunto…
Para quê?O meu amor é isto:
desejar-te em segredo
pouco esperar do que vier de ti
E nada te pedir.
Maria Aurora Carvalho Homem
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Mãos que beijam
Cresceu a
menina que embalou bonecas e tinha medo de cães ameaçadoramente guardadores da residência.
Quando a Perdigueira ofereceu aos patrões um par de filhotes, estes, passada a
fase da teta, elegeram o colo da donzela como berço fofo e quente. Acertaram.
Aquelas mãos de ternura macia, logo os fizeram esquecer a aspereza da língua materna.
Em breve aqueles cachorrinhos ganharão
tamanho e trocarão a passividade dos afagos, esquecerão o sabor dos mimos, partindo,
à solta, por caminhos de liberdade e de aventura.
Quem virá, então, à procura desse colo desocupado, desse
esbanjar de afectividade, da magia dessas mãos protectoras? Estará ela, triste,
sozinha, nas escadas, ou será preciso subi-las e bater à porta? A abri-la, quem
sabe, um coração adulto, ávido de outros afectos, umas mãos destinadas a outras
carícias.
Vila Real, 24 de Setembro de 2017
M. Hercília Agarez
domingo, 24 de setembro de 2017
sábado, 23 de setembro de 2017
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
É Outono
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Vindimar com mãos de fada...
Blusa, saia e avental de motivos geométricos, em chita da
melhor qualidade. As riscas ao alto tornam a moçoila ainda mais élancée. A elegância da simplicidade. Na
cabeça, em vez de chapéu de palha, feminino lenço arranjado com arte.
Uma vindimadeira
sozinha tenta a naturalidade de um ar de quem trabalha. Para a fotografia.
Escolheu (escolheram), como cenário, uma vinha com uma ranchada de filhos. As
folhas empalidecem mal avistam uma tesoura de poda. Em idade fértil, espera voltar a dar ao sol, como as
companheiras rivais, mas só no ano seguinte , se o tempo for de feição.
A cesta, de rijo
vime, antepassada airosa e icónica do balde de plástico, quase transborda de
uvas acaloradas, esperando mudar de transporte. Dali transitarão para maior
carruagem, os vindimos que suores masculinos, condutores experientes, farão
desembarcar na última estação da via
sacra. E, em espaçoso espaço, em pedra, começa o fim do ciclo, evola-se o
perfume a mosto embriagador, espraiando-se pelos arredores com à vontade de
Setembro. Ninguém dá parte de fraco, nem tira o chapéu a Baco.
Vila Real, 19 de Setembro de 2017
M. Hercília Agarez
Talvez me vá embora
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
Refúgio
Setembro traz consigo os dias curtos.
Tens de encontrar um refúgio, por mais pequeno que seja.
Vítor Nogueira
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Canções da rádio
O nosso Telefunken,
tinha um lugar de destaque na sala, numa pequena mesa ao lado do sofá.
Era através da Rádio Alto Douro, que nos chegavam as notícias.
Todos os dias à hora do almoço recebíamos a visita dos Parodiantes de Lisboa, com a dupla imbatível Patilhas e Ventoinha.
À noite depois das notícias, as rádio-novelas de amores e desamores que me faziam sonhar. Também as novelas religiosas sobre a vida dos Santos, que para mim, que andava na catequese faziam todo o sentido.
O festival da canção, era transmitido pela rádio e quem não tinha televisão, podia assim, assistir a esse acontecimento.
Era com uma jarra a servir de microfone, que eu cantava todas as canções da rádio, que iam surgindo.
Lá em casa a minha família era super paciente, mas deviam ter-me esclarecido que para ser cantora era preciso ter voz.
Vim a saber disso mais tarde já no ciclo preparatório, quando o professor de música, ainda mais paciente do que a minha família, me disse com algum cuidado, que eu não tinha voz para cantar, devido à minha insistência.
Não desanimei no entanto.
Era através da Rádio Alto Douro, que nos chegavam as notícias.
Todos os dias à hora do almoço recebíamos a visita dos Parodiantes de Lisboa, com a dupla imbatível Patilhas e Ventoinha.
À noite depois das notícias, as rádio-novelas de amores e desamores que me faziam sonhar. Também as novelas religiosas sobre a vida dos Santos, que para mim, que andava na catequese faziam todo o sentido.
O festival da canção, era transmitido pela rádio e quem não tinha televisão, podia assim, assistir a esse acontecimento.
Era com uma jarra a servir de microfone, que eu cantava todas as canções da rádio, que iam surgindo.
Lá em casa a minha família era super paciente, mas deviam ter-me esclarecido que para ser cantora era preciso ter voz.
Vim a saber disso mais tarde já no ciclo preparatório, quando o professor de música, ainda mais paciente do que a minha família, me disse com algum cuidado, que eu não tinha voz para cantar, devido à minha insistência.
Não desanimei no entanto.
Os pássaros e
os vizinhos ouviam-me a cantar "A Maria Rita" do duo Ouro Negro, a "Desfolhada" e a "Menina de olhar sereno".
Nas noites quentes de Verão muitas vezes eu ia para a rua jogar à "patela", mesmo em frente à minha casa.
As vizinhas sentavam-se em bancos à porta para se resfrescarem,
as casas de luzes apagadas por causa dos grandes mosquitos a que nós crianças, chamávamos "para-quedistas".
O rio sereno quase invisível, não fosse por vezes a lua imensa, a pratear as suas águas.
No passeio, o cão vadio de manchas castanhas e brancas, enroscado a dormir com um olho aberto.
Ali perto na rádio...
Nas noites quentes de Verão muitas vezes eu ia para a rua jogar à "patela", mesmo em frente à minha casa.
As vizinhas sentavam-se em bancos à porta para se resfrescarem,
as casas de luzes apagadas por causa dos grandes mosquitos a que nós crianças, chamávamos "para-quedistas".
O rio sereno quase invisível, não fosse por vezes a lua imensa, a pratear as suas águas.
No passeio, o cão vadio de manchas castanhas e brancas, enroscado a dormir com um olho aberto.
Ali perto na rádio...
"Teus olhos castanhos de encantos tamanhos, são pecados
meus... "
Na voz de Francisco José.
Ana de Melo
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
domingo, 17 de setembro de 2017
sábado, 16 de setembro de 2017
Sonhos
Não,
menino de olhar enviesado, essa passarinha não é para a tua fisga. Por mais que
tentes escondê-la no bolso, ela é "gato escondido com rabo de fora".
Apesar das calças compridas ainda és uma criança. O teu olhar intimidado
fixa-se, disfarçadamente, na rechonchuda loirinha, pensando:
-
tens a mania que hás-de ser modelo ou manequim e começaste cedo o treino. Deves
ter surripiado as poses dos figurinos da
mamã.
Realmente, nessa altura, gordura ainda era
formosura..
A menina, decerto bem nascida, embalada por
criadas de farda em berço enfolhado, passou por ti de nariz empinado, marcando
a superioridade social. Desprezou-te. Esmero
não rima com desalinho.
Quem sabe se o
garoto se torna um rapaz alinhado, atraente, formado em artes da sedução, e te
enfrentará, olhos nos olhos, a ti, menina
tornada esbelta e sem poses artísticas, receptiva à convivialidade com rapazes
que, na infância, se contentavam com exercícios de pontaria na caça a
passarinhos indefesos.
Vila Real, 15 de Setembro de 2017
M. Hercília Agarez
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