Após
o almoço e uma sesta de talvez um quarto de hora para seguir o conselho
avisado de Mário Soares que, todos os dias, passa pelas brasas para
fazer o quilo da refeição, e como ainda era cedo, deu-me para reler, sei
lá aí pela décima vez, um dos livros mais notáveis escrito em português
por um grande português, médico por acaso e prosador por vocação.
Refiro-me ao livro " Sem método" primeira obra do escritor João de
Araújo Correia, médico na Régua, já falecido, e que Aquilino Ribeiro
considerava "mestre de nós todos". Entenda-se que "nós todos" eramos os
escritores portugueses, também ele, Aquilino, incluído.
Pois, meus amigos, acordado da sesta reparadora, li aqui e além
passagens de histórias, repito, já bem conhecidas de leituras anteriores
e mais uma vez deliciei-me com o talento de um prosador que só os
bafejados pela sorte "e pelo destino" conheceram em vida.
Pela sorte, porque não há já homens (ou há menos), com a envergadura
moral de João de Araújo Correia e, pelo destino, porque estou convencido
que o conheci, com ele privei e com ele convivi por um feliz golpe
desse mesmo destino. Pertenço ao número dos que pensam que nada acontece
por acaso e estou convicto que o nosso encontro, o de João de Araújo
Correia comigo, foi obra premeditada.
E percebi esta coisa que considero extraordinária: a de que só hoje,
nos tempos que correm, tempos por vezes desavindos e outras vezes
medíocres, é que melhor podemos avaliar o génio de um escritor cujo
talento de narrador só foi possível graças a uma escrita que o coloca a
par de um Vieira.
Isto é notável numa época onde a escrita consegue ser pior do que
certas mãos que a escrevem. Que a escrevem não, que a garatujam.
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