domingo, 24 de maio de 2020

Começa por ti

Foto:josé alfredo almeida



Tua natureza divina não foi feita para ser aprisionada à sombra do sofrimento, fora do alcance de Deus, e sim para expandir, crescer, para assim, reencontrar sua real função. 

És a flecha que tem por destino ser arremessada ao tronco do conhecimento e, se forças em direção contrária, cais em depressão, por negares ao teu ser a tua real necessidade que é a de estares livre, presente na tua realidade divina. Deves saber que as coisas não precisam acontecer nesta ordem. 
Tens a opção em escolher novamente, sempre que sentires a ausência do teu coração em tuas decisões, ou seja, a ausência da paz de espírito. 
Volta, recolhe teu ser no silêncio que habita 
tua morada, e lá, começa por ti. 
O que queres que não podes ter? 
Nesta frase tão curta, reside todo o emaranhado de fios que te sufocam a cada dia.
Começa por ti e em ti. 
Aprende a conhecer tuas reais necessidades e começa por elas. 
Uma a uma, purificando teu ser do sofrimento que tens te causado por todo este tempo. 
Desacredita da tua má sorte e põe tua atenção, teu coração no conhecimento que está dentro de ti, em silêncio, a esperar-te para dar-te a paz, 
a certeza de quem és. 

Para cultivar a sabedoria, é preciso força interior. Sem crescimento interno, é difícil conquistar a autoconfiança e a coragem necessárias. Sem elas, nossa vida se complica. O impossível torna-se possível com a força de vontade.



Dalai Lama

Etermamente Douro-1008

Foto:josé alfredo almeida

Eternamente Douro-1007

Foto:josé alfredo almeida

domingo, 17 de maio de 2020

Lágrimas

Foto:josé alfredo almeida



"Algumas vezes o problema são os olhos
avançam hipóteses
nunca vistas"



Nuno Moura

Dor


Pontes da Régua-1028

Foto:josé alfredo almeida

Eternamente Douro-1000

Foto:josé alfredo almeida





"Algumas vezes o problema são os olhos
avançam hipóteses
nunca vistas"



Nuno Moura

Um tempo distante, tão perto de mim





Era a procissão das velas, a noite parecia-me um manto de veludo, depois do jantar juntávamo-nos ao cortejo em direcção à igreja matriz.
Houve uma altura em que eu vi compor o andor, um segredo fechado, feito de trabalho, empenho e fé.

As velas acesas, os passos numa marcha lenta, as varandas e janelas, enfeitadas com colchas. Chegávamos ao Peso a cantar, unidos numa fé contagiante, para mim que era criança e acreditava sempre no que não via nem sabia, era algo de transcendente, maravilhoso.

A igreja estava iluminada e  o sermão era feito pelo Sr. padre ao ar livre.
Entre o cansaço e a vontade de me manter bem lúcida e acordada, tenho vagas lembranças de rostos e expressões que guardo comigo sem saber quem eram, iluminados pela magia das velas.


A igreja matriz, onde eu fiz as comunhões e o crisma e vi pessoas que eu amo, também fazer a comunhão e guardei esses dias como quem guarda amêndoas, num dia de Páscoa.

Tive a honra de conhecer o Sr. padre João,  ternurento e confiável, que pensava que eu tinha vocação quem sabe, para vir a ser freira. Por eu ser uma excelente e devota aluna na catequese. Naquela altura essa ideia passava-me  pela cabeça, tal como ser artista, manicura, ou índia num país de cowboys.

Na igreja matriz vivi alguns momentos importantes, todos ou quase todos associados a festas, a doces,  a flores. 
Um tempo distante, tão perto de mim.


Ana de Melo

sábado, 16 de maio de 2020

Fechado à chave

Foto: josé alfredo almeida




Por vezes, de um dia que vivemos,
de um filme, de um poema... por vezes de alguém,
conservamos uma palavra.
Não saberemos explicar porquê,
mas essa palavra aloja-se dentro do nosso pensamento,
atravessa vagarosamente os nossos silêncios,
fecha-se à chave dentro de nós.




José Tolentino Mendonça

Cores da vida

Foto: josé alfredo almeida

EN 222

Foto:josé alfredo almeida

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Chove

Foto:josé alfredo almeida





Tão calma é a chuva que se solta no ar


(Nem parece de nuvens) que parece 


Que não é chuva, mas um sussurrar 


Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece. 


Chove. Nada apetece… 



Fernando Pessoa

Pontes da Régua-1027

Foto:josé alfredo almeida

Vida colorida

Foto:josé alfredo almeida

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Diário da quarentena

Foto:josé alfredo almeida



10 de Maio de 2020

    Vivemos num Maio que não sabe estar. De tão desnorteado, de tão inconstante, de tão imprevisível, leva-me a pôr a hipótese de, também a natureza, estar a sofrer de um qualquer vírus meteorológico. Que este mês é traiçoeiro como o seu irmão mais curto, di-lo a sabedoria popular. A caminho de calores de Verão, aconselha-nos a não guardarmos agasalhos, nem aquecedores. Se as cerejas se comem ao borralho em quenturas aldeãs de aroma saudável,  também o camponês aguenta bem a crossa.
 Como acontece com outras questões confusas, tão prolíficas como os cogumelos, faço perguntas e não obtenho, quase nunca, respostas. Chama-se a isto, ainda me lembro, interrogações retóricas. Pluralizando uma nota de desfecho do comentário semanal do Dr. José Miguel Júdice, não é uma, são muitas, as “perguntas sem resposta”. Perante evidências atmosféricas, sentidas mesmo em confinamento paciente e respeitador, eu acuso este mês de muitos adágios de estar a deixar-nos órfãos de Primavera.
    Ontem, pisando chão seco e caminhando a engolir ar fresco em quantidade bastante para armazenamento, sob um céu de sol à espreita, fui às compras. À saída do super, por sorte não tive um chilique. Um trovão tonitruante (passe a redundância), assessorado por “chuva oblíqua”, caída mais do que a cântaros, pôs-me coração e pernas tremeliquentos. As senhoras nuvens terão combinado parir no mesmo minuto, sem terem avisado vendedores de guarda-chuvas de dois por cinco euros. E quem quiser que se avenha… Não estive com meias medidas: abri o invólucro do alho francês e com ele cobri o toutiço, a parte mais vulnerável do feminino ser.
   
   Nem parece que estamos no tempo da flor, como lhe chamou D. Dinis, ao acusar os seus colegas provençais de só “soerem trobar no tempo da frol e non en outro”. Faço votos de que os nossos novos trovadores não deixem enferrujar a lira. Para já, cultivem o lirismo. Quando acabar tudo bem, talvez lhes apeteça ressuscitar a epopeia. Não faltam adamastores, nem velhos do Restelo. Concílios, há-os diariamente. Não de deuses, mas de profissionais de saúde. Aqueles que, em campos de batalha contra inimigo desconhecido, põem à prova a sua “força humana”. São eles os actuais heróis lusitanos. Esta não é guerra de Marte. Nas águas deste mar de ondas revoltosas, não reside Neptuno. Que Vénus, “Afeiçoada à gente lusitana / Por quantas qualidades via nela”, lhes dê, em tempos de outros feitos, de outras desafios, a sua bênção.

    Registo as frases do dia, eleitas por júri uni-pessoal: 1. “O corona-vírus é uma neurose colectiva”-  Bolsonabo. Sempre é mais elaborado o uso de neurose do que o de gripezinha... 2. “A nossa bandeira / jamais será vermelha” juram, convictos, seus   apoiantes embandeirados de amarelo, azul e verde. Estão a necessitar de uma aula de rima em slogans revolucionários. Contem connosco. Nisso (e em muitas outras coisas), damos cartas… Este jamais, ortograficamente luso-francês, soou-me melhor na língua de Victor Hugo, quando, em contexto aeropórtico, um ministro do XVII Governo Constitucional declarou, veemente e peremptoriamente: - na margem sul, jamais, jamais.


M. Hercília Agarez

Eternamente Douro-999

Foto:josé alfredo almeida

Eternamente Douro-998

Foto: josé alfredo almeida