A Língua Portuguesa
(Antologia, prefácio e notas de Fernando de Araújo Lima)
Autor: João de Araújo Correia
Editora: Verbo-1980
"Esta Antologia, subjectiva como todas as antologias, é uma suma de páginas extraídas de livros e outras publicações de João de Araújo Correia, contista de alta estirpe, cronista de mérito, mestre insuperável do vernáculo.
Chama-se A Língua Portuguesa.
Realizá-lá não foi trabalho fácil, mas foi trabalho sedutor. Tinha à mão um manancial inesgotável, qual rio caudaloso e rumorejante, que me obrigou a uma limitação dolorosa, imposta por um plano preconcebido.
Neste volume encontramos a prova eloquente de que João de Araújo Correia conhece como poucos, hoje como ninguém, a nossa língua, e que, vivendo duo in eodem lecto, nos dá maravilhosamente frutos, com a liberalidade de um esbanjador de tesouros.
Dedicou-se a ela como um enamorado dos velhos tempos, que o de hoje é fútil ou desastrado. Conhece-a, por isso, do fundo à tona. Desceu às raízes, descobriu gemas ignoradas, puliu vocábulos desusados, ressuscitou, para o nosso mundo, o que cuidávamos morto noutro mundo. É um inovador na mais pura acepção do termo. E, mercê de tão paleta vernacular, escreve com muita elegância, com ritmo, com leveza, com belas tonalidades e com aquele "sentimento da palavra" de que nos fala Th Banville. Não deixa de pôr a disciplina da linguagem ao serviço da Arte. É que existe também, na Arte, uma disciplina - não uma sujeição, entenda-se. O que não há é " talento que resista à ignorância da língua", como afirmou, e muito bem, Graciliano Ramos.
Para João de Araújo Correia escrever é mais do que manobrar um feiticeiro instrumento de comunicação - é quase uma necessidade fisiológica, como respirar, por exemplo.
Os seus livros, e refiro-me agora aos dedicados exclusivamente à defesa da língua (Por Amor da Nossa Fala - Notas sobre pronúncia -, Por Amor da Verdade - Auto de desagravo - e Enfermaria do Idioma), ou àqueles que parcialmente se ocupam de casos linguísticos ( Sem Método, Manta de Farrapos, Horas Mortas, Ecos do País, etc,) revelam, exuberantemente, a existência de um verdadeiro mestre. Um mestre que dá lições admiráveis, cristalinas, por vezes a sorrir, de bem escrever e de bem falar, aos que querem saber e aos que cuidam já saber e que afinal nada sabem.
João de Araújo Correia, que considero hoje o nosso primeiro escritor, ele que nunca deixou de ser dos primeiros, pertence à linhagem, portentosa e rara, de um Bernardes, de um Camilo e de um Aquilino.
E, quando um dia (oxalá venha longe esse dia) resolver abandonar a ribalta das Letras, nós sentiremos a falta de uma luz. Uma luz a que nos habituáramos, e a que tanto queríamos, guiando-nos, como se fora uma estrela, o espírito, a alma, o caminho e a vida."
Fernando de Araújo Lima
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