quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sem mais

Foto:josé alfredo almeida




Às vezes não há palavras suficientes para descrever a suavidade com que o amanhecer nos surpreende na caligrafia das águas ___ fica a epifania e guarda-se assim, sem mais.


José Braga-amaral

Pontes da Régua-657

Foto:josé alfredo almeida

Bailando

Foto:josé alfredo almeida



Bailarina em pontas
com folhos e cauda:
solitário ensaio.



M. Hercília Agarez  

terça-feira, 28 de junho de 2016

E a lua aqui tão perto...

Foto: josé alfredo almeida




    Conquistaram o céu. Desde que o mundo é mundo. Deu-lhes o Criador o privilégio do voo. Guardou para elas as alturas, a liberdade:

                                               Felizes, as aves:
                                               têm por morada
                                               o infinito. *

    Querem voar cada vez mais alto, bater novos recordes, como nós, humanos . 
    Não contentes com o domínio dos ares, aspiraram  a chegar ao sol. Não precisariam de asas de cera, como Ícaro. E de que lhes valeriam? Sensatamente, desistiram.
   Contudo, ao saberem que o irmão humano, desasado, tinha pisado a lua, questionaram-se: e porque não nós? Dispensamos inúteis naves espaciais. Coragem, camaradas. Pedalemos com mais força ainda. A menina branca e redonda parece estar à nossa espera.



Vila Real, 27 de Junho de 2016
M. Hercília Agarez


* in As Asas da Libelinha

Pontes da Régua-656

Foto:josé alfredo almeida

Rabo de gata

Foto:josé alfredo almeida

segunda-feira, 27 de junho de 2016

domingo, 26 de junho de 2016

Memórias do jardim




Por vezes,
basta um pequeno nada.

Um som, um rosto, um cheiro, uma cor,
uma aragem que parece deter-se, num murmúrio que me fala do passado.

Sempre que saía da escola, tinha paragem obrigatória na Alameda. Depois de algumas correrias à volta do lago, mesmo rente à água, indiferente aos avisos de que poderia cair, eu e mais algumas colegas, rumávamos ao parque infantil.

Não me lembro de nenhum dia que não fosse andar de baloiço, depois fazia a ronda pela balança o escorrega e os cavalinhos.
Naquela altura, eu sabia a importância de cada instante,
por isso aproveitava tudo o que me fazia feliz.
Talvez, porque à medida que fosse crescendo iria esquecer-me dessa percepção, que penso todas as crianças possuem.

Algumas vezes, íamos até ao jardim do Largo dos Aviadores.
Um jardim de grandes árvores centenárias, bebíamos água no chafariz, em grande alvoroço, depois ficávamos a conversar sentadas nos bancos espalhados pelo jardim.
O coreto ao fundo, o sol entre as ramagens.
Falávamos da vida.
De histórias reais que alguém ouviu contar, de alguma notícia que saiu no jornal e toda a gente comentava, de livros, do último que uma de nós, trouxe da Biblioteca dos Bombeiros...
Também de rapazes.
Brincávamos muitas vezes ás escondidas.
Foi numa dessas vezes, na pressa de arranjar um esconderijo, que me deparei, com um par de namorados,
enlaçados, e longe do mundo, a beijarem-se.
Um beijo de cinema como aqueles que eu via aos domingos à tarde, na televisão da paciente e doce Senhora Rosalina, eu e várias crianças da minha rua.
Eles não deram por mim, e eu guardei essa visão mágica onde entrei sem querer.

Soube que a vida real podia ser como no cinema.
O amor de certeza era o segredo.

O jardim já não existe nem a Alameda tal como era, ponto de encontro, lugar de descoberta, de recreio, de momentos únicos de várias gerações. De matar a sede e o calor de Verão.


Dentro da minha memória tudo está intacto, basta um pequeno nada.


Junho de 2016
Ana de Melo

Barco na paisagem-149

Foto: sombras de alguém

Barco na paisagem-148

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-653

Foto: josé alfredo almeida

sábado, 25 de junho de 2016

Seis sentidos

Foto:josé alfredo almeida



prazer
da pura percepção
os sentidos
sejam a crítica 
da razão

Paulo Lminski

Pontes da Régua-652

Foto: josé alfredo almeida 

(Re)Conhecer a Régua-266






"A Régua, como as Caldas, vai cada vez em aumento, especialmente na margem do rio onde se têm construído muitos e belos armazéns para o depósito de vinho. A principal casa é a da Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro – na qual se fazem as reuniões das provas. "




Barão de Forrester

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Tu

Foto: josé alfredo almeida


Foste um pedaço que vivi noutra era
e essa era é o pedaço que me falta
e se ainda me sopra à cara um vento manso 
com odor a madressilva e sândalo 
e as minhas mãos e coxas se sentem frescas 

são-no na esperança que venhas 
e me aqueças o ventre entre estas 
como na noite de verão em que me beijaste 
e eu te sonhei, num dia de sol e lua que se confundiram
És o pedaço, e o desejo e início
e serás o fim.




Dúlia Soares

Barco na paisagem-145

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-649

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-648

Foto:josé alfredo almeida

terça-feira, 21 de junho de 2016

Pontes da Régua-647

Foto: josé alfredo almeida

Um lugar com memórias

Foto:josé alfredo almeida


Tantas e tantas memórias...! 
Eu fugia de casa com cinco ou seis anitos, com vinte e cinco tostões que tinha "roubado" do porta moedas em pelo vermelha muito velhinho, da minha Mãe, onde ela guardava os trocos para o pão, para ir andar de carrossel  tinha muitos animais girafas, cavalos, e cestinhas redondas e fazia ondulação!!!
Um verdadeiro carrossel, sem perigo e que me fazia sentir livre e curtir a asneira de ninguém saber onde eu estava...
Sempre rebelde como hoje sou. 
Bons belos tempos! 


Olivia Lopes Silva 

Barco na paisagem-144

Foto:sombras de alguém

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Acrobacia aquática

Foto:josé alfredo almeida


    Que dirá a horizontalidade milenar do rio ao ver este número circense de acrobacia? Águas cristalinas em piruetas verticais. Fogo preso. Fogo solto. Pingos e respingos. Efeitos especiais ao sabor do vento. Um sob e desce em louca correria.
    Repuxo asperge frescura nos ares cálidos. Desafio à lei da gravidade. Uma nota decorativa como outras, introduzidas na moderna arquitectura paisagista. Um bom gosto não inédito, mas apetecível.




Vila Real, 20 de Junho de 2016

M. Hercília Agarez

Paisagem de verão



Foto:josé alfredo almeida




E por fim
a muito lenta paixão
do fogo, sufocada.
Era o verão. 




Eugénio de Andrade

(Re)Conhecer a Régua-265


Pontes da Régua-646

Foto:josé alfredo almeida

Barco na paisagem-143

Foto:josé alfredo almeida

domingo, 19 de junho de 2016

Paisagem da manhã

Foto:josé alfredo almeida




olhos baixos
serena e bela
aguarda o dia



Eugénia Tabosa

Louvor às árvores





Poucos portugueses há que gostem de árvores. Tiram-lhes a vista... Querem o campo visual desafrontado como se temessem inimigo oculto.
De geração em geração, vai-se agravando esta sanha arboricida. Árvores isoladas, que cresceram e se desenvolveram livremente, dando nome e beleza a certos sítios, uma hoje, outra amanhã, foram sacrificadas a esse furor, porque eram árvores. Aquele pinheiro manso, aquele castanheiro, aquele cedro - já não existem. Foram degolados sem que ninguém os defendesse nem chorasse. O mais que se diz, em seu louvor, é que deram bons carros de lenha.
Esta árvore deve ir abaixo, porque está velha. Esta árvore deve ir abaixo porque estorva. Esta árvore deve ir abaixo porque não deixa ver quem vai na rua. Verdade é que nem a árvore está velha, nem estorva, nem impede que se vejam as pessoas que se querem ver. Mas, é árvore... Deve morrer porque teve a pouca sorte de ser árvore.
O homem antigo, se não amava as árvores, respeitava-as por instinto. Foi a maneira de nos legar algumas. O homem moderno põe em jogo uma espécie de inteligência para as destruir. Não quer que tenham fisiologia. Não admite que levantem passeios, nem arremessem folhas aos telhados. Quer que sejam inertes como candeeiros. O homem actual deixará à posteridade em vez de árvores, pérgulas de cimento. Confunde urbanismo com desarborização. O urbanismo que pede verdura, é entre nós sinónimo de secura. Ninguém urbaniza sem pôr raízes ao sol.
Há quem diga que é preciso destruir árvores para dar lugar aos automóveis. Mas se o motor de explosão, com as suas exalações, destrói a saúde pública e a árvore é o seu contraveneno, é indispensável conciliar a existência do motor com a existência da árvore. É preciso que se acomodem ambas no espaço que lhes couber, sob pena de morrermos envenenados.
Cada árvore é uma bica de oxigénio indispensável à vida. É, de mais a mais, filtro de gases tóxicos provenientes de combustões devidas ao nosso comodismo. Tais gases vão fazendo de cada povoado uma câmara de condenados à morte. Os moradores de certos países parecem moribundos.
Só a árvore os poderá salvar.
Conviria convencer de tal verdade o nosso homem comum, que não olha as belezas da paisagem, mas é capaz de defender a beleza da sua pele. Só assim se poderão salvar as árvores que ainda existam em cidades e vilas portuguesas.


João Araújo Correia in "Passos Perdidos"

Pontes da Régua-645


Foto:josé alfredo almeida

O melhor é dormir!

Foto: josé alfredo almeida



Que se lixe a televisão
e quem só fala da bola:
é sol, o meu futebol!

M. Hercília Agarez