Dispensário Linguístico
(Antologia)
Autor: João de Araújo Correia
Editora: Imprensa do Douro- Régua,1999
"O escritor João de Araújo Correia,(...) também se preocupou muito com
a língua portuguesa. Não só no aperfeiçoamento exaustivo dos textos de
ficção e crónica mas, também, na recolha de vocábulos e, ainda, na
defesa pública da fala e da escrita. Na sua tábua bibliográfica
assinalam-se: Linguagem Médica Popular Usada no Alto Douro (1936); Por
Amor da Nossa Fala - Notas sobre Pronúncia (1952); Enfermaria do Idioma
(1971).
Estes livros foram antologiados por Fernando de Araújo
Lima em A Língua Portuguesa (edições Verbo, com o patrocínio da
Secretaria de Estado da Cultura). É dedicado à memória de Aquilino
Ribeiro e inclui a seguinte epígrafe de José Leite de Vasconcelos: "A
língua é um dos elementos da nacionalidade: pugnar pela vernaculidade
daquela é pugnar pela autonomia desta."
Que recomenda João de
Araújo Correia? Alguns exemplos: "Respeitem-se os dialectos, mas não se
consinta que nenhum deles se árvore em mentor dos outros. Língua é
língua, dialecto é dialecto. (...) O lar do idioma português é Portugal.
Nele deverá arder sempre a sagrada fogueira da pronúncia branca."
"Pronúncia é poesia. Cada palavra pronunciada é uma rosa singela.
Perderia a graça, perderia a inocência, se trouxesse presa, numa
etiqueta de zinco, a história da família." "Se és português, não
aprendas português com os filólogos."
Apesar disto, seguiu a
doutrinação implacável dos filólogos do fim do século XIX e começo do
século XX, com a obstinação de corrigir o que classificava erros e
vícios da linguagem. Insurgiu-se por vezes com razão e autoridade, mas
noutras circunstâncias emitiu opiniões que, no mínimo, julgamos
absurdas.
Será melhor citá-lo: "Cobre a cara com uma serapilheira
se disseres face a isso. Deves dizer em vista disso." "Telejornal e
telespectador fora dos serviços televisivos são patetismos inúteis.
Basta dizer jornal e espectador." "Se houvesse língua portuguesa, não
haveria Partido Social-Democrata. Poderia haver Partido Social
Democrático."
O exacerbado purismo de João de Araújo Correia
transforma-o num cavaleiro do Apocalipse: "O idioma está condenado à
morte. Perde, de hora a hora, o carácter, o vigor, a graça, a poesia."
"O português dos nossos filhos não será português. Será uma
burunganga."
Tão assanhado fundamentalismo seria impensável se
não transcrevêssemos, na íntegra, estas insólitas afirmações. Cada qual
faça os comentários que entender. E sem cobrir a cara com uma
serapilheira..."
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