terça-feira, 30 de abril de 2019

O meu Moledo-164

Foto:josé alfredo salmeida


"Posso dizer meu Moledo, porque tem sido filho dos meus cuidados. Desde que o vi decadente, que até lhe chamei Caldas Mortas, até que o vi ressurguir, com francos sinais de vida, não descansei. Escrevi, a seu respeito, artigos sobre artigos na imprensa local e na do Porto. Mas,  à parte os artigos, escrevi mil cartas a quem podia acudir ao moribundo ou ja falecido.
Com o meu amor, que chegou a ser de fé, movi momtanhas. Consegui vencer a inércia e até a imortalidade de muita gente para reanimar o meu Moledo. E reanimei-o...Posso dizer que o reanimei.

(....)

O meu Moledo! Quando eu morrer, levo-o comigo."   

João de Araújo Correia

segunda-feira, 29 de abril de 2019

O nosso parque

Foto:josé alfredo almeida



"Há mil anos ou mais que o pobre de mim, doido por árvores, tem pedido à Régua que plante um parque, um arvoredo que viria a ser a sua mata municipal. Mas, às minhas palavras tem feito a Régua ouvidos de mercadora. A Régua é mercadora.
Também se pode dizer que tem considerado loucas as minhas palavras, porque sempre lhe fez, a respeito de árvores, orelhas moucas. Em vez de plantar ou implantar um parque, tem reduzido a zero uma boa porção de árvores dos seus arruamentos.


(...)

Mas, toca a falar sério... Antes que arrefeça a febre das construções, trate a Régua de organizar, dentro de si ou perto de si, uma sala arborizada, um refúgio em que os pássaros e as águas cantem.
Esse refúgio será o seu pulmão e o seu recreio. Mas, se não quiser aproveitá-lo para espairecer, convidará com eles os visitantes.
Enquanto esse dia, talvez utópico, não amanhecer na Régua, tem a Régua para seu uso e de quem a visite, o parque do Moledo.
Eu, sempre que passo por ele, fico encantado. E, ao mesmo tempo, reconhecido ao Moledo, que o tem protegido. Bárbaro que fosse, como algumas terras que se consideram civilizadas, já o teria arrancado.
Mas, em vez de cometer esse delito, o bom Moledo, protege as suas árvores. As do parque e as de fora do parque. Bendito seja.
Não esqueça a Régua o parque do Moledo. É o meu voto de grande amigo das árvores e de uma estância termal (...)"
João de Araújo Correia

domingo, 28 de abril de 2019

O meu Moledo-163

Foto: josé alfredo almeida



"O ressurgimento da Caldas do Moledo, vítimas da incúria de várias gerações, se não começar por grandes coisas, comece por pequenas coisas, tão importantes como as grandes quando se quer ressurgir em toda a linha. Dar abrigo a quem procura o Moledo é uma pequena coisa muito importante."

João de Araújo Correia

sábado, 27 de abril de 2019

Belas Caldas!

Foto:josé alfredo almeida




Belas Caldas! Tudo merecem.(...)
À parte a utilidade balnear, fácil de prever, poderá deliciar-se, do lado Sul, com uma delicada visita para o rio e para a Penajóia - montanha sempre verde."


João de Araújo Correia 

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O meu Moledo-162

Foto:josé alfredo almeida


"Tenho dito e redito que se pode e deve fazer, das desprotegidas Caldas do Moledo, uma estação hidrológica e turística digna de ser frequentada e visitada, todo o ano, por gente do país e de fora do país. As Caldas do Moledo, risonha introdução à mais típica paisagem portuguesa, primeira epopeia vinícola do Douro, não devem desmerecer de títulos nobres. Deve ser preparada e asseada como sala de espera da bacia da Régua - maravilha das maravilhas."


João de Araújo Correia

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Ser livre

Desenho de Margarida Almeida




"Sou livre 
para o silêncio das formas 
e das cores. "



Manoel de Barros

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Os geios da esperança

Foto:josé alfredo almeida



Nas margens de um rio de oiro, 
crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe
 e a sede do leito que de baixo o seca,
 erguem-se os muros do milagre.
                        

Miguel Torga



Os olhos da esperança vêem nestes patamares desnudos mas de aspecto saudável a garantia da preservação da identidade paisagística do Douro vinhateiro. Dá até para esquecer os geios-cemitérios de muito má memória e para visualizá-los em cor de cepas, e pâmpanos, e folhas, e frutos, e esteios de xisto. Um presente com futuro. O vinho de amanhã. O pão de muitos de amanhã.
    Patamares dourados e promissores. Não já construídos à força da força braçal de homens gigantes em ânimo, poucas vezes com jornas justas, muitas vezes com raivas engolidas, de quem a história só reza como elementos constitutivos de um povo anónimo.
    Não. Há muito irrompeu, Douro dentro, a fúria impetuosa e ensurdecedora de motores roncantes, dando início à era da técnica. Chegaram as máquinas, tão saudadas por um Fernando Pessoa pela voz de Álvaro de Campos:

            Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
[…]
Arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
[…]
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!

In “Ode Triunfal”

    Máquinas ufanamente metaforizadas por um António Cabral de ideais neo-realistas e de paixões pelo seu “país do vinho e do suor”, pelo seu “paraíso álacre das vindimas”:

                        Douro, eh lá, uma nova era se anuncia
                e traz aos nossos ouvidos uma promessa de rosas.
                               Ouço já o crepitar das metralhadoras da paz,
                esses corações de aço que se chamam tractores.
                […]
               
                               As enxadas deixarão de cavar o desespero;
o ferro e a pá arrumar-se-ão nos arquivos da memória.

                                               “Douro, meu belo país” in Poemas Durienses



M. Hercilia Agarez

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Árvore florida

Foto:josé alfredo almeida


De que árvore florida
Chega? Não sei.
Mas é seu perfume.


Matsuo Bashô

quarta-feira, 17 de abril de 2019

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Um Douro assim...

Pintura de Margarida Almeida




      Quando, em 1948, uma menina fugida de uma Aústria ainda em pé de guerra veio conhecer a paz e os afectos em casa de um médico-escritor da Régua, tinha a aguardá-la um Douro engalanado de cores de Outono. Como já sabia escrever, deu notícias aos pais, dizendo-lhes: “Isto aqui é muito bonito. Os montes são pintados”.
     Segundo o seu próprio testemunho, publicado no quarto número da revista oficial da Tertúlia João de Araújo Coreia , GEIA, graças à localização conseguida por Helena Gil através do Facebook, Hannelore só muito tarde teve conhecimento que o seu “primo doutor”, João de Araújo Correia, lhe tinha dedicado a colectânea de contos MONTES PINTADOS, publicado em 1964. Escreve este na introdução: “Devo a esta menina o título deste livro. Os contos que aí vão foram escritos na terra extraordinária em que os montes, ao despedir da colheita, se preparam melancolicamente para a morte com paramentos ricos”.
    E já que evocamos um escritor tão representativo de um norte de “encantos mil”, homenageemos João Bigotte Chorão, um dos seus amigos e estudiosos há pouco partido para um mundo de cujas cores ninguém fala. Escreve ele na introdução de O MESTRE DE NÓS TODOS – Antologia:
   Os contos de João de Araújo Correia, em geral breves e sempre de prosa enxuta, mergulham as suas raízes mais em terreno rural que urbano. O Marão e o Douro […] são o palco adusto e pedregoso de vidas de sofrimento e miséria.
   Douro no olhar surpreso de uma menina refugiada, por momentos esquecida de uma realidade de negras cores. Nas palavras de um homem de palavras com sabor e aroma a Douro, postas tanto na boca de doutores como nas da gente do povo com o tipicismo expressivo e ingénuo de que só ele é capaz. E também nas de um ensaísta da beira, residente em Lisboa, mas sempre, enquanto pôde, de mala aviada para viagens a um espaço telúrico ao qual fazia questão de considerar um pouco seu. E, já agora, nas minhas, que também sou filha de Deus…



M. Hercília Agarez
Vila Real, 15 de Abril

domingo, 14 de abril de 2019

Tira-me uma dessas fotos





Tira-me uma dessas fotos que tiras,
embacia a objectiva, desfoca
um pouco e mede mal a luz. Agora
que termina o dia não é difícil
eu sair favorecida. Que os traços
se suavizem, que todas as rugas
da alma e do contorno dos olhos
desapareçam e que quem me veja
pense que posso merecer a pena.
E sobretudo, que o que impressione
nessa foto não seja eu, que estou
ali, mas os teus olhos que a tiraram.



amália bautista

sábado, 13 de abril de 2019

Quase tudo




"Aquilo que nós escolhemos  é muito pouco: a vida e as circunstâncias fazem quase tudo."


John Tolkien

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Melancolia

Foto:josé alfredo almeida



Viver o absoluto da minha hora porque nada mais ela comporta

Vergílio Ferreira



    Não são cores. São matizes, tonalidades, nuances. Não se impõem distintamente, não dominam. Fazem o jogo da sedução pela macieza do cromatismo, esbatido em dégradés mimados a pedirem colo ao rio.

    Até o arco-íris, em apagado segundo plano, qual figurante de filme duriense, quer passar desapercebido. Respeita a subtileza cromática da tela. De tão contido nos seus cambiantes crepusculares, não se vislumbra, nas águas, o seu reflexo.

    É uma sinfonia de sonoridades suaves, feita só de andamentos lentos, sem lugar a alegros nem a allegrettos. 


    Também disto é feita a paisagem. De momentos de modéstia de luzes e de cores. De soturnidades contagiantes, quiçá a acenderem em olhos comovidos “uma furtiva lágrima”.

M. Hercília Agarez
Vila Real, 12 de Abril

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Perfumar

Foto: josé alfredo almeida



que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?




Carlos Seabra

domingo, 7 de abril de 2019

Lá longe, ao cair da tarde

Foto:josé alfredo almeida


Lá longe, de mansinho, num lusco-fusco de luminosidade coruscante mas fugaz, instalou-se, num Douro de águas e montes, um crepúsculo surpreendente. O sol declinante sol, ainda cheio de genica, realça o acobreado de cumeadas pouco afeitas a estas tonalidades ruivas, ocres, fulvas, num indefinido de paleta a oscilar entre o ouro velho, a ferrugem jovem, o brique e o alaranjado. Com o céu por resplendor, com o rio por compadre corográfico, este conjunto, feito de harmonia pacífica, de graciosidade, de arrojo, é um desafio à sensibilidade e ao sentido estético de quem tem o privilégio de lhe pousar olhares de espanto.

Um convite a um pare e veja sem pressas. À concentração contemplativa e melancólica. À introspecção. À criação poética. A suspiros surdos de corações enamorados. E à oração, por que não. Que o reino de um Pai que nos dá o pão venha até nos, mais vezes, com esta magnificência. Que Ele não nos deixe cair na tentação de maldizer a obra de que foi Criador. E, se não for pedir muito, que perdoe as nossas ofensas: faltas de civismo, negligências, adulteração paisagística, em nome de todos os progressos, de todos os interesses económicos, de todos os caprichos. 


M. Hercília Agarez
Vila Real, 07 de Abril

Somos poesia






Busco a paz nos teus olhos
e repouso no teu beijo
carente de ternura.
Num abraço há um poema
perfeito
respirado nos corpos.
Vivemos poesia
e nada mais sobra
para além do amor.

Quero a serenidade dos lábios
onde me vejo deitado
vazio de ânsias.
Num beijo há um verbo
intemporal
conjugando vontades.
Somos poesia
e nada mais existe
para além de nós.



Emanuel Lomelino

quinta-feira, 4 de abril de 2019

E quando a noite cai

Foto:josé alfredo almeida



E quando a noite está nublada
Ainda há uma luz que brilha em mim
E brilhará até amanhã
Deixe estar.



The Beatles - Let It Be