domingo, 26 de fevereiro de 2017

Memórias do silêncio

Foto: josé alfredo almeida


As janelas
por onde entram as silvas,
a púrpura pisada, 
o aroma das tílias,
a luz em declínio,
fazem deste abandono
uma beleza devastadora
e sem contorno.


Eugénio de Andrade

(Re)Conhecer a Régua-282




"A introdução do caminho de ferro facilitou, na verdade, o escoamento das produções vitícolas mas não em exclusivo, como os registos de mercadorias referenciados nos “Relatórios das linhas do Minho e Douro” confirmam. Com efeito, era uma multiplicidade de produtos que era escoada pelo comboio para a cidade do Porto, totalizando já em 1882 9 toneladas de produtos diversos embarcados só no cais da Régua e 4 no Pinhão. Em 1885 já se atingiam as 15 toneladas na Régua e as 6 no Pinhão."



Maria Helena Mesquita Pina

Pontes da Régua-946

Foto:josé alfredo almeida

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Naturalmente só

Foto:josé alfredo almeida



No mistério do sem-fim
Equilibra-se um planeta
E, no jardim, um canteiro
No canteiro, uma violeta
E, sobre ela, o dia inteiro
A asa de uma borboleta



Cecília Meireles

Francisco

Foto:josé alfredo almeida



"Cada um é apenas como Deus o vê e nada mais."



S. Francisco de Assis

Pontes da Régua-945

Foto:josé alfredo almeida

Flores ao vento

Foto: josé alfredo lmeida



flores ao vento
na cortina da janela
cores da primavera




Alonso Alvarez

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Só,belo

Foto: josé alfredo almeida



Campo aberto.
A árvore, solitária.
Ora, não mais...



Francismar Prestes Leal

Pérola termal

Foto: José Carlos Coutinho


"Se fizermos das suas belezas cabedal turístico, faremos do Moledo um paraíso visitável por gente sã e doente. Gente nossa e até estrangeira...Não se esqueça esta verdade. Que nenhum reguense a esqueça para fazer do Moledo, através de todas as lutas, uma pérola termal e turística invejável por todas as estâncias. Quem escreve estas linhas sabe o que vale e o que pode valer, se for defendido sem quebranto, o nosso caro Moledo."


João de Araújo Correia in "Pátria Pequena"

Pontes da Régua-944

Foto:josé alfredo almeida

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Instante

Foto:josé alfredo almeida



Nenhum instante se repete
Assim te digo adeus,amor:
encontramos-nos amanhã á mesma hora
ou nunca mais.


Joaquim Namorado

Descanso do descanso




  Parece cenário de estúdio para registo de poses de circunstância. Mas não. É talvez o recanto mais fotogénico do jardim onde flores claras se impõem a verdes vários, de árvores e simples plantas envasadas. Numa cascata, pontifica uma estatueta alegórica, como santo em altar.

   A cadeira de braços, em verga robusta, entrelaçada, sugere, no seu espaldar, um trono. Não a ocupa, porém, uma princesa. Não tem diadema, nem jóias, nem vestido de brocado. É uma jovem senhora a descansar de um nada fazer. Uma languidez ociosa e triste. Uma solidão de regaço inútil. Nem a macieza de gato de estimação, nem um romance da moda, nem um bordado sem fim à vista.

   O que dará sentido à vida desta figura seráfica? Será aquele não sorriso sinal de doença a que ares puros e campestres são prescrição médica? Ou será uma apatia desistente, uma aceitação acomodada de destino sem destino?


                                                 Rostos que espelham
                                   zangas com a vida:
                                 
feia, a tristeza.


M. Hercília Agarez, 22 de Fevereiro de 2017

Pontes da Régua-943

Foto:josé alfredo almeida

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Outra vez

Foto:josé alfredo akmeida


Nada jamais continua, 
Tudo vai recomeçar!



Mario Quintana


Dizer de mim




Era um domingo de Inverno, daqueles dias soalheiros em que o sol se espraia pelos caminhos,
emprestando reflexos dourados e promessas de Primavera.

Todos os domingos, ia à missa na capela do Asilo.
Gostava desses dias, de roupa aprimorada e cuidados redobrados com a aparência. De rever as amigas que frequentavam a infantil com ela, ali no Asilo de freiras, que era também morada de meninas órfãos ou de baixos recursos, diziam as pessoas.
Usavam os cabelos muito curtos e eram bonitas.
Na memória dela, recorda-as meninas com um olhar triste.

Sabia a missa de cor e sonhava ser freira.
Gostava das vestes e do sorriso das freiras, além de que assim estaria mais perto de todos os mistérios que lia no catecismo e de que ouvia falar.
Gostava dos cheiros, dos cânticos e de reparar em cada pessoa.
Havia um momento em que as pessoas davam um abraço ou um beijo, era a parte que ela mais gostava.
Não comungava porque não tinha feito ainda a primeira comunhão.

Depois da missa, o Sr. padre despedia-se das pessoas na porta da capela. Ali ficava a conversar durante algum tempo.
Ela aproveitava também para pôr a conversa em dia com uma ou outra amiga,
o mundo das crianças é tão simples, por isso tão vasto.
O espírito delas está aberto a todas as coisas,
principalmente para as coisas sem importância, tão importantes afinal.

De mão dada, de volta a casa.
Do lado direito, o rio de encontro aos seus passos.
Naquele domingo oiro e prata.
Ao longe já se avistava a Casa Viúva Lopes, com as suas letras garrafais,

Casa Viúva Lopes... A Casa que mais barato vende na região, vai para um século.

Mais à frente o largo da ponte, a sua primeira morada. Depois o Corgo.
Subia as escadas a correr, todos os cheiros como se fossem um abraço.
O almoço em família, a mãe, o avô, tia e primos.
Era um domingo de Inverno e de sol.
Olhava para lá da janela, semicerrava os olhos e penso que ninguém adivinhava o sentir que lhe ocupava o seu pequeno peito.
Um sentimento de alegria e gratidão por estar ali, por pertencer àquela família.
O rio em frente à casa,
do assento onde estava não o podia ver.
Pressentia-o.
Ouvia-o.

Como se fosse o seu próprio coração.


Ana de Melo

Pontes da Régua-942

Foto:josé alfredo almeida

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Pescaria

Foto: josé alfredo almeida


A garça ignora
a esmola do pescador.
Palavrões ao vento.



Nelson Savioli

Conversas em dia




    Está de regresso a casa, a senhora Maria Melra. Encontrara-se, na fonte, palco de todas as conversas, de todas as trocas de novidades, de todos os desabafos, com a comadre Encarnação. Não se viam há uns dias, toca de aproveitar o tempo. Os cântaros lá se iam enchendo, contentes, sob o olhar atento do mulherio, respeitador da sua vez. E as revelações atropelavam-se: a Engrácia estava prenha do Quim do Quelho, um valdevinos sem eira nem beira; o Tobias Quartilho teve uma "trambósia" e entaramelava-se-lhe a voz; a menina mais nova do senhor engenheiro não engordava por mor das bichas; o mordomo da festa, o Tonho da Maria Mouca, guicho, já andava a pedinchar para o foguetório; a cozinheira da Quinta das Amoreiras andava metida com o patrão; o senhor padre Jeremias estava cada vez mais mouco e taralhouco; a mestra andava com os calores (com oito filhos, já estava aviada...); o viúvo da Ti Ambrósia já estava de casa e pucarinho com a Rita Remelas. E muito, muito mais. Ficaria para a vez seguinte.

    À porta de casa, a Fatinha, o exemplo de todas as virtudes, aguardava a frescura e a leveza daquela água. A senhora Maria Melra sorriu para a fotografia, toda ancha, queixou-se das dores nas cruzes, do reumático e  das abafações do homem.

     
    A vida. No tempo em que a água cantava nas fontes.


M. Hercília Agarez, 20 de Fevereiro de 2017    

Barco na paisagem-253


Pontes da Régua-941

Foto:josé alfredo almeida

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Régua

Foto:josé alfredo almeida



Gosto da minha terra assim, quando a luz lhe disfarça os crimes, as deformidades e certos acessórios carnavalescos. Olhando de longe, vagamente, na ilusão propiciada por um amanhecer, sobra, imune, a pura silhueta da poesia. O aroma de mosto, a ideia de um rabelo, o romantismo do comboio, o eco de uma cantiga. Os duros declives do combate. O itinerário da esperança e da tragédia. Uma herança desbaratada.



Olga Magalhães in blogue mãe preocupada

Olhar solitário

Foto:josé alfredo aklmeida

Ponho o ouvido à escuta de encontro ao mundo:
ouço-me para dentro...



Herberto Helder

Postal do inverno-2



Pontes da Régua-940

Foto:josé alfredo almeida

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Eternamente Douro-27

Foto: josé alfredo almeida



"Do Corgo para cima, é Alto Douro: chão de xisto esfarelado pelo ar; pelo calor, pelo trabalho mortal da enxada, bidente e sarrada, do cavador-escravo, que, de sol a sol, debaixo da seborreira calcinante, curvo, fincado no aluvião, com a pele a escaldar e a luzir de suor, o corta, o espedaça, o pulveriza, convertendo a pedra em terra."


Antero de Figueiredo

Pontes da Régua-938

Foto:josé alfredo almeida

(Re)Conhecer a Régua-281

Foto cedida por Carlos Jorge Silvsa


Régua, nos 40: e sua a estação de comboios e a sua importância como centro da ligação entre a RRD e o resto do país. Um estudo para os nossos historiadores e  para as memórias ds C.P que hoje importa fazer para entender melhor esta importante ligação do negócio do nosso vinho generoso, como dizem os durienses, o famoso Vinho do Porto, ao  transporte ferroviário entre a Régua e o Porto.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Tempo nenhum

Foto: josé alfredo almeida


Abro a cancela do quintal.
Pela lama das folhas dos plátanos
atravesso o pátio qur já foi
jardim e lago e quase floresta
e regresso à casa arruinada.
O  sorriso a crescer das cinzas



Joaquim Manuel Magalhães

Nossas memórias

Foto:josé alfredo almeida



Árvores da infância -
E depois a monotonia verde
Dos canaviais...



Paulo Franchetti

Pontes da Régua-937

Foto:josé alfredo almeida

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Eternamente Douro-26

Foto:josé alfredo almeida



"Há paisagens que, pela sua importância, nos deixam efeitiçados."



Miguel Judas

Pontes da Régua-935

Foto:josé alfredo almeida

(Re)Conhecer a Régua-279



Foto cedida por Carlos Jorge Silva



A Régua, aqui o Largo da Ponte ( hoje largo 25 de Abril) nos anos 40 era assim...uma terra - a principal na RDD -, muito ligada aos negócios (e, sobretudo, ao transporte por comboio para o Porto e Gaia) do Vinho do Porto.