Foto: Arquivos dos BV do Peso da Régua |
"Não devem ser muito antigas as festas do Socorro. Devem datar do princípio do nosso século ou dos últimos anos do século passado. É crível que se tenham desenvolvido com o crescimento da Régua, vila moderna que tentou imitar Vila Real e Lamego, realizando festas semelhantes às de Santo António e às de Nossa Senhora dos Remédios. É natura que a Régua, situada entre dois burgos lendários, dissesse entre si: também eu, que nasci ontem, quero festas iguais às de Lamego e às de Vila Real. Iguais ou superiores...
À parte a emulação, terá contribuído para engrandecer as festas reguenses a actual imagem da Virgem Do Socorro. Dizem que a imagem antiga era tão pequenina, tão humilde, tão esquecida no seu altar, que mal se enxergava se saísse à rua, como rainha da sua procissão, no dia 15 de Agosto. Foi preciso que Francisco Pereira da Costa, antigo caiador, regressasse do Brsail com dinheiro suficiente para oferecer à igreja matriz da sua terra uma Nossa Senhora do Socorro nova. Ofereceu-lha como se lhe oferecesse o retrato de sua esposa. O rosto da Senhora é a reprodução do rosto de Rosinha - mulher do caiador. O artífice repatriado quis perpetuar e divinizar, na obra encomendada e recomendada, as adoradas feições da sua companheira. Deu exemplo de amor conjugal confundindo, em adoração, como o amor à Virgem.
Nossa Senhora do Socorro não é a padroeira da única freguesia que constitui a Régua ou, melhor dizendo, o Peso da Régua - nome oficial. Padroeiro da Régua é S. Faustino. Mas, ninguém quer saber de semelhante santo, ninguém lhe reza uma oração, ninguém lhe acende uma vela. Tem imagem na igreja, mas, essa imagem, só por grande milagre figura na procissão. É uma bela imagem, mas, esquecida à míngua de devotos e devotas.
S. Faustino foi mártir. Não contentes com isso, os seus paroquianos prolongam-lhe o artírio, condenando-o, depois de morto, à moderna pena do silêncio. Tanto, que só uma vez puseram nome de Faustino a um neófito. Abundam as Marias do Socorro, porque a Virgem do Socorro e, de facto, a padroeira da Régua. Quando sai à rua, bem vestida e bem ourada, provoca êxtases religiosos."
João de Araújo Coreia in "Hora Mortas"
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