sexta-feira, 30 de junho de 2017

Eternamente Douro-73

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-1055

Foto:josé alfredo almeida

Carta aberta





"Foste importante ... 
és importante para mim... 
e dói esta ausência... 
esta distância...
 não sou má pessoa, 
não sou mesmo má pessoa e 
não te quero mal,
 tocaste-me a alma e por isso sofro... !"

de uma carta de s.




"O amor é o início. O amor é o meio. O amor é o fim. O amor faz-te pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor é um prémio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor é um farol e um naufrágio. O amor é alegria. O amor é tristeza. É ciúme, orgasmo, êxtase. O nós, o outro, a ciência da vida.
O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força. O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz. O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda. Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te. O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor é um sucesso. E um fracasso. Uma obsessão. Uma doença. O rasto de um cometa. Um buraco negro. Uma estrela. Um dia azul. Um dia de paz. O amor é um pobre. Um pedinte. O amor é um rico. Um hipócrita, um santo. Um herói e um débil. O amor é um nome. É um corpo. Uma luz. Uma cruz. Uma dor. Uma cor. É a pele de um sorriso."

Joaquim Pessoa

terça-feira, 27 de junho de 2017

Três belas frases de João de Araújo Correia



Bem me lembro que num Agosto de há mais de trinta anos eu fui por aí fora a caminho da Srª da Lapa, em dia de romaria grande. Às tantas desviei-me da estrada de Moimenta e enfiei pela estradinha da Soutosa, estradinha pouco expedita, na Serra de Leomil. Foi então que dei de caras com a aldeia de Nacomba, coisa inesperada mas, ainda assim, com algum relevo nas miudezas do mapa.
Nacomba surgiu-me a deslado, meio aconhegada num desses vales que dão as águas e dão o ser aos requebros da Serra de Leomil.
Nacomba era um povoado de casas velhas e humildes, casas de telha vã com todo o negror do tempo e da fuligem.
À distância de todos estes anos passados, é crível que um ou outro emigrante tenha feito ali uma casa mais arrebicada, a dar algum sainete às gentes do lugar, aos caminhos lastrados de mato galego, mesmo àquele chão onde se imbricam as leiras de sementio.
E bem me lembro que quando li o conto “Os Cegos de Nacomba”, de João de Araújo Correia, logo me deu no goto esta frase admirável: Meia dúzia de casas perdidas na unhada que Nosso Senhor dera num monte.
Esta frase, tão metafórica e tão sintética, ficou-me a vida inteira, a dizer-me, só por si, da omnipotência e da omnisciência de Deus, Nosso Senhor.  
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Bem me lembro ainda das antigas carregações do vinho na casa agrícola de meus pais, nos subúrbios da Régua. As carregações eram uma festa aos meus olhos de rapazinho descuidado. Eram carros e mais carros de bois, cada qual com sua pipa bem arrochada; e eram os carreiros, os matulas de armazém, os serventes beberrões e eram, principalmente, os bois, sempre a esmoerem palha milhã e inçados de mosquedo. Por esse tempo os carros de bois eram os carros de aluguer e o pecúlio entesoirado fazia com que os carreiros levassem vida bem regalada. Pode dizer-se, até, que os bois eram afagados com amor. Livres de andaços ou mazelas, nédios, bem nutridos, cheios de carnes e untuosidades, eram umas estampas de bom porte e boa galhadura, coisa digna de se ver e eram também a vaidade dos carreiros.
Imagine-se agora uma junta de bois a dormir no eido, numa noite de lua cheia, noite profunda e silenciosa de Estio.
Imagine-se que vamos até à janela a ver o sereno irreal da noite enluarada e a ver a junta de bois assim amodorrada.
João de Araújo Correia dá-nos esse quadro. É como se fossem dois versos na sublimação de um poema:Duas medas de carne fulva untadas de luar. 
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Lembra-te homem que és pó e em pó te hás-de tornar.
Mas, na hora de prestar contas no outro mundo, quem fala são, muitas vezes, os preconceitos e as mundanidades.
Luxos, bonitezas, fidalgos ou cavadores, obtusos ou letrados, ricaços ou mendicantes, celerados ou preguicentos, ao fim e ao cabo todos dormirão o sono da eternidade polvorenta. Quem no-lo diz é João de Araújo Correia. Diz esta belíssima frase tão judicativa como sentenciosa:Tanto voam para sempre os que têm asas de prata no caixão, como os que se remedeiam no voo com as asas das omoplatas.


Manuel Braz de Magalhães

Regresso à Régua




Publiquei aqui em 20 de Maio último uma carta intitulada O Peso de Regra, na qual me referia à capela da Misericórdia de Peso da Régua como uma das mais bonitas igrejas existentes em Portugal e acrescentava que não se sabia praticamente nada sobre o edifício. Graças a José Alfredo Almeida um amigo da sua terra, fiquei a conhecer outra bela obra na Régua, o Quartel dos Bombeiros Voluntários construído em duas fases entre 1929 e 1955 com o projecto do arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira (1884- 1957), o autor também creio eu, do palacete dos Barretos, hoje Biblioteca Municipal da Régua.
A Régua conta com vários edifícios de qualidade registados pelo Serviço de Inventário do Património Arquitectónico (não o Quartel dos Bombeiros infelizmente): a Câmara, a Igreja Paroquial, a capela da Misericórdia, a capela do cemitério, o atual Centro de Saúde, a sede local da Caixa, os Correios, o Tribunal, a estação de CF, as pontes metálica e rodoviária sobre o Douro. O Museu do Douro constituído por edifícios antigos recuperados e uma adição muito moderna, também ajuda a que a Régua seja que uma terra que vale a pena visitar.
O arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira é conhecido sobretudo por quatro edifícios, embora tenha projetado dezenas deles no Porto, em Gaia, nas regiões Norte e Centro. Esses edifícios são a Câmara de Gaia, o café A Brasileira, no Porto, o Hotel Astória, de longe o melhor edifício da margem direita do Mondego em Coimbra, e a chamada Clínica Heliântica de Francelos ou Valadares que franqueou a entrada do arquitecto nos higiénicos registos da arquitetura modernista porque não tem telhados (os modernistas benzem-se de horror cada vez que vêem um telhado num edifício recente), sendo constituído essencialmente por largo terraços sobre pilares, necessários aos tratamentos por exposição ao sol em que se acreditava muito na época.
São característicos na arquitectura da segunda metade do século XIX e dos primeiros anos do século XX o género de vãos, molduras e remates de pedra com que  Oliveira Ferreira compunha e ornamentava as suas obras, diferentes daqueles que se utilizavam em séculos anteriores mas de idêntico ao carácter: janelas duplas ou semicirculares (como as do Quartel dos Bombeiros que admitem uma luz belíssima no interior), arcos abatidos, mísulas agudas ou alongadas, pináculos.
Neste quadro, não tenho a certeza de que a capela da Misericórdia da Régua tenha sido projectada por Oliveira Ferreira. Parece-me mais suave e mais colorida (graças aos azulejos e vitrais) um pouco à maneira de outro grande arquiteto da época, Marques da Silva (1869-1947). Quem sabe? A arquitetura da Régua merece uma investigação séria.


Paulo Varela Gomes

Eternamente Douro-69

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-1053

Foto: josé alfredo almeida

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Menino do Douro




Guardo intacto o rio.
Os cheiros, as manhãs claras e as tardes doiradas,
iluminadas pelo teu sorriso.

Um dia, gritaste-me:
Um dia, hei-de levar-te a conhecer o mundo!
E eu acreditava em ti.
Como acreditava na manhã de cada dia e no doirado das tardes.

Fechava os olhos e tu levavas-me por esse rio afora.
Dentro do meu coração fui contigo ao fim do mundo.
E regressei.

Regresso sempre ao nosso rio.
Ao teu sorriso cheio de promessas.

A casa.


Ana de Melo

Entre mergulhos

Foto:josé alfredo almeida


Entre mergulhos

uma pedra rasa salta três vezes

na água.

E assim se divide

assim se parte

o rio. A infância

dum lado. Do outro

a terra firme

onde isto se passou.



Pedro Mexia

Marés vivas



"mais tarde ou mais cedo, a memória de uma pessoa fica presa às tristezas e às dores e tudo o resto se perde numa espécie de nevoeiro."



David Machado 

Pontes da Régua-1052

Foto:josé alfredo almeida

Barco na paisagem-310

Foto:josé alfredo almeida

domingo, 25 de junho de 2017

Eternamente Douro-68

Foto:josé alfredo almeida

Barco na paisagem-309

Foto:josé alfredo almeida

DOURO: As Quintas do Vinho do Porto






DOURO: As Quintas do Vinho do Porto

Autores: Alex Lidell e Janet Price
Editora: Quetzal Editores, 1992



"Já há um certo número de bons livros sobre a a história e produção do vinho do Porto e não é nossa intenção tratar do assunto mais uma vez. Este livro debruçar-se-á especificamente sobre as quintas que produzem uvas e onde, de uma maneira geral, o vinho é feito. Esperamos que o nosso livro dê ao leitor uma deia clara, tanto visual como factualmente, de como são essas quintas, da sua história, das suas diversas áreas e características e de maneira como funcionam."



Alex Lidell e Jant Prince

Quinta Nova

Foto:josé alfredo almeida

terça-feira, 20 de junho de 2017

Pontes da Régua-1048

Foto:josé alfredo almeida

Barco na paisagem-302

Foto: josé alfredo almeida

Procuro ser um bombeiro




"Desde que me lembro, a sineta dos bombeiros sempre despertrou em mim respeito e atracção, pois representava o grito de quem clama por socorro e é ouvido, o símbolo proclamado e praticado por quem, por amor, semeia sem tentar de saber da recompensa ou quem é que vai aproveitar o esforço da sua abnegação.
Há ideais na vida que não passam de novas intenções, há sinetas que trinem mas ficam sempre de fora, há sirenes que silvam só para fazer barulho e dar nas vistas.
Mas, graças a Deus, que há ideais encarnados e praticados por homens concretos, que são nossos vizinhos e conhecidos. E aí estão, a prová-los, os bombeiros da paz tornada possível no seu grande ideal de "vida por vida".
No pino do verão ou nas noites frias de inverno, indiferente aos perigos e ao legítimo descanso, lá vai o bombeiro salvar vidas e haveres. E a pressa com que corre não é ditada por meras emoções ou sentimentalismo piegas, mas antes por reconhecer que é o seu próximo que está em necessidade e clama por socorro. E quando chega ao quartel não pergunta quem é que vai socorrer mas onde é o incêndio ou o desastre.
É um homem, é o seu próximo que grita e ele só se preocupa em chegar quanto mais depressa melhor, sem querer saber se é da sua família, da sua religião, ou da sua política.
Esta é a grande lição do bombeiro, homem sacramento de solidariedade humana. Por isso, respeito e me sinto atraído pelo seu exenplo e procuro ser também um bombeiro, ainda que sem farda."


Aires Querubim Menezes de Soares
Governador Civil do Distrito de Vila Real (1980)

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Morreu um Homem Bom

Drº Aires Querubim de Menezes Soares- Medalha de Ouro da LBP, em 2012 


Acabei de receber uma notícia muito triste: hoje, morreu o Dr. Aires Querubim.
Uma notícia muito triste para mim, seu admirador e velho amigo. 
Uma notícia mais triste para a Régua, a cidade que escolheu para viver quase toda a sua vida, educar suas filhas, para excercer activamente cidadania, ser político ao serviço do povo e de causas regionais que sempre soube defender mais e melhor, quando chegou ao lugar de Governador Civil do Distrito de Vila Real e, ainda teve tempo, para se dedicar à advocacia. 
Uma notícia ainda mais triste para a centenária Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, onde mais renderam os seus talentos e se elevaram os seus valores civícos, éticos e morais. Aqui a História tem abrir mais uma das suas páginas para escrever seu nome, em letras grandes e generosas, depois evocar a sua enorme dedicação e, por fim, distinguir toda a grande obra que realizou, como um grande presidente da direcção (1972-1980), numa passagem que, por ele, foi recordada assim:


"Desde criança que sou admirador e amigo dos Bombeiros Voluntários. O meu tio mais velho, Eduardo Menezes, irmão de minha mãe, era bombeiro e foi, durante alguns anos, comandante dos bombeiros de Alpiarça.
Uma vez por ano, na véspera do 5 de Outubro, vinha jantar a casa de meus pais, onde ficava para no dia seguinte comemorar com os seus correligionários a implantação da República. Quando conheci o nosso Comandante Carlos Cardoso, alto e aprumado, lembrava-me muitas vezes do meu tio.
Ao ser sondado para concorrer às eleições como candidato a presidente da Direção dos Bombeiros Voluntários aceitei imediatamente com alegria, ainda que sentindo a responsabilidade do esforço que tal tarefa, a concretizar-se, me exigiria. Se é verdade que tinha trinta e poucos anos, pensava também que já era pai de quatro filhas e advogado com uma intensa atividade.
Fui eleito e comecei logo a trabalhar com dedicação e empenho. Queria ser digno da memória do meu saudoso tio Eduardo e dos meus ilustres predecessores, doutor Júlio Vilela, Vieira de Castro, Camilo de Araújo Correia, Abel Almeida e tantos outros."

Acabei de receber uma notícia muito triste: morreu um Homem Bom. 

Em volta da Régua, os montes quando souberam trajaram de preto, reflectido o cinzento pesado e escuro do céu.
Morreu o Drº Aires Querubim, um homem justo e que fez da sua vida um constante caminhar para a verdade. Que da sua memória saibamos aprender o que ele tanto semeou em vida e, acima de tudo, que o seu legado seja um exemplo para seguir.


Régua, 19 de Junho de 2017
José Alfredo Almeida

Calor, a quanto obrigas...




Toilettes amarrotadas
para o corpo bronzear;
pernas sem classe afastadas
e os pés... a transpirar!



M. Hercília Agarez

Eternamente Douro-62

Foto:josé alfredo almeida

Barco na paisagem-301

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-1047

Foto:josé alfredo almeida

domingo, 18 de junho de 2017

Cândida

In memoriam:  professora Cândida Cunha (1925-2017)


                  

"Ela olhava para cada um de nós como único e singular, com qualidades e defeitos, incentivando- o constantemente a dar o melhor de si e motivando-o para o gosto de aprender."

Paula Melo



Este pode não ser o único, mas é  o mais verdadeiro elogio com que todos nós a devemos recordar esta singular professora: 

             "Ensinar é difícil. Exige virtudes que poucos seres humanos têm: paciência, humildade, curiosidade científica, sensibilidade pedagógica e didáctica, gosto em dar a saber a quem sabe menos, gosto pelo contacto humano com os estudantes."(Desidério Murcho)

Eternamente Douro-61