O que os olhos vêem é preferível à divagação dos desejos.
O Eclesiastes
A realidade maquilhada. Um arremedo
rigoroso de uma das actrizes da peça em três actos que é a vindima. O trabalho
das mulheres nas vindimas é cortar as uvas, com mãos-parteiras, inclinadas
sobre os bardos, com um calor duriense feito de fama e proveito a empapar-lhes
de suor as blúsias de chita.
Carregadas as cestas, despejam-nas, para enchê-las tantas vezes quantas o sol exigir.
Esperavam-nas, junto aos cestos vindimos da era pré-plástico, homens
musculados, afeitos a todos os excessos. No caminho, tinham lá elas tempo para
posar para a fotografia de algum turista de passagem! Very Typical!
A estrear, o recipiente de verga tão branca
como quando saiu das mãos do cesteiro. Parece mais um arranjo artístico do que
um amontoado casual de frutos sorridentes e úberes.
A mulher do povo não tem donaire para pegar
num cacho com aquela sugestão concupiscente. Usa assim o lenço, é verdade. Com
as pontas para trás. Para deixar ver as arrecadas de ouro, luxo rural no
feminino que só a morte lhes arrancará das orelhas.
Até onde terá chegado esta imagem apelativa
onde as uvas parecem tão doces como o sorriso feminino? Imagem retrato. Imagem
publicidade. Imagem convite. Desafio. Não era verdadeira a frase que corria na
década de quarenta como incentivo à cultura da vinha? - "Beber vinho é dar
o pão a um milhão de portugueses".
Vila Real, 5 de Setembro de 2016
M.
Hercília Agarez
..De uma riqueza ..tão "terna" ..
ResponderEliminarpor entre simplicidades .."tão " BELAS!!
Gostei muito ..Ema Sra DRa Hercilia Agarez....
e meu amigo José Alfredo...