Foto:APIF|Nuno Resende |
O fogo mais escondido é o mais
ardente
Ovídio
Que
fazes aí, menina bem nascida? Que crime
cometeste para mereceres esse desterro, esse chão lamacento onde anda descalça
gente a cheirar ao suor dos trabalhos forçados? Com quem hás-de falar o
francês aprendido com a madame, se os camponeses mal sabem falar a língua que
lhes ensinaram (nem a todos) nos bancos cansados
da escola? E onde (e para quem)
executarás, com a leveza das tuas mãos-penas os teus Chopins tão aplaudidos por
senhoras de lágrima fácil, pertencentes
a famílias pretensamente pergaminhadas? Essa sombrinha romântica é uma afronta
a tantas sombras verdes e frescas com que a natureza premeia a fidelidade dos seus
resistentes.
És
uma flor requintada de mais para esses
jardins. Destoas das inocentes margaridas que alegram o granito e o xisto dos
pobres. Que pensarão dessa farpela chique, desses botins de verniz, as moçoilas
da tua idade para quem sedas e veludos são vestimentas de santos e rendas e cambraias toalhas de altares?
Quanto
tempo durará esse sorriso? Que mistério esconde ele? Chegará ao seu destinatário?
Se
eu soubesse as respostas a estas perguntas, talvez escrevesse um romance...
Vila Real, 16 de Setembro de 2016
M.
Hercília Agarez
....Gostei...deste" delicioso."..excerto...!
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