O Porto do meu tempo
(Antologia)
Autor: João de Araújo Correia
Editora: Fundação Eugénio de Almeida, 2ªEdição, de 2011
"A primeira vez que o autor de Contos Bárbaros visitou o Porto aconteceu em 1905, tendo seis anos e quase dois meses de idade. Viajou de comboio, passando em Campanhã para um arqueológico americano, em que se dirigiu até a não muito distante da Rua Duque da Terceira. Mas por esta galeria se vislumbram as figuras de Magalhães de Lemos e Gonçalo Sampaio, há incontornáveis referências a Camilo, quer através de uma saborosa carta quer num encontro com a neta Flora Castelo Branco. Porém, não menos camiliano é Ricardo Jorge, não só através de uma crónica, em que é abordado como homem de letras, como através de um extenso texto deste livro, uma conferência sobre esse grande amigo de Camilo enquanto portuense. E, curiosamente, Araújo Correia conta, como ainda jovem estudante de Medicina. se encontrou com o pintor Artur Loureiro, surpreendendo-o no seu estúdio ao Palácio de Cristal. Aí o visita, já depois da estância do artista na Austrália e o percebe de grande generosidade, nomeadamente com Abel Salazar, e ao futuro médico aquele amostra-lhe uma receita autógrafa do célebre Charcot! Comenta Araújo Correia que, posteriormente a este encontro, em que Loureiro se mostrou de uma extrema generosidade e bondade para os seus contemporâneos , na tertúlia de café que o escritor frequentava, por contraste, próximo da minha mesa, enterravam-se homens de talento"!
João de Araújo Correia também nos fala dos seus encontros com Junqueiro - "A primeira vez que o vi foi em espírito" -, da experiência fascinante de uma entrevista com a erudita D.Carolina Michaelis de Vasconcelos. Como emocionante é também o seu convívio com o Dr. Duarte Leite. E aí o que ele diz!, quando tem o diabo de uma razão que ainda hoje se mantém; perguntava em 1964: para quando o Museu da Cidade do Porto? É que, trinta e tal anos depois, ainda perguntamos a mesma coisa, pois então! Mas também há uma alfinetada bem dada no sumiço segmentado que está a levar a Linha do Douro. No antigamente ia-se por ela fora, do Porto a Salamanca, agora...
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Esta antologia de paginas portuenses de João de Araújo Correia nutre-se substancialmente de memórias da infância e da adolescência do escritor, que no Porto fez os preparatórios do curso e se licenciou em Medicina. Atento aos afazeres académicos, o autor de Montes Pintados no Porto publicou alguns dos seus trabalhos e colaborou, com certa intensidade, em O Comércio do Porto, Jornal de Notícias, Nova Renascença, Prometeu, Portucale, O Tripeiro, entre outros jornais e revistas.
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Participemos, pois, nesta extraordinária homenagem ao Porto, colhida ao longo de uma obra sólida, em que a mui nobre, sempre leal e invicta cidade representou um agradável papel complementar no espírito de um grande Homem do Douro. E a bondade da prova transparece neste mesmo livro. Que lhes preste, insisto, e vá à memória de quem assim tão bem escreveu!
Porto, Dezembro de 1990
José Viale Moutinho
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