Foto: josé alfredo almeida |
"Nós, os da Régua, não precisamos de ir muito longe para sacudir o tédio provinciano. Basta-nos ir até ao Porto. Pode não ser para muita gente uma grande cidade, mas para nós é a maior porque tem a dimensão de quem sonha realidade. Vamos ao Porto vender, comprar e divagar. Deixamos o tédio e trazemos no bolso um presentinho. Somos assim. Ainda somos assim, graças a um resto de sentimentos antigos de que estas montanhas são o relicário.
Fui ao Porto no último fim de semana do ano passado.
(...)
O sábado amanheceu inacreditável. Céu limpo e luminoso como um coral deixado na praia do nosso contentamento pelo mar revolto do inverno. Fui logo para a rua gozar o sol do Porto. Para mim o Porto começa na Foz.
Dei uma volta até me dar conta de que andava por ali praticamente sozinho. As praias no inverno parecem mulheres arrepiadas saídas do mar e a quem tivessem roubado a toalha. Toda a gente parece respeitar-lhes o pudor. Peço desculpa a D. Foz..."
Camilo De Araújo Correia in "Livro de Andanças"
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