segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Sei de um vale

Foto:josé alfredo almeida



Sei de um vale.
Em que as manhãs acordam as nuvens que dormem no rio.

De um sonho que atravessa os tempos.

E os olhos que espreitam das janelas, redescobrem as pontes
 envoltas em fumo de neblinas,
 que sobem aos montes e se perdem nos céus, nesses dias, em que os dias são contados ao compasso da respiração.

Sei de um lugar.
Em que os caminhos parecem toalhas brancas, orvalhadas nos dias gélidos de Inverno.

Um lugar que mudou no tempo, mas a sua essência é antiga e mística.
E nas madrugadas brancas, há ecos de gente, movimento em direcção ao rio, portadas a abrirem-se.
E quando neva, as árvores acordam vestidas de espanto e os flocos brilham à luz das luzes ainda acesas.

Gerações e vidas cruzadas, onde deuses e espíritos convivem nas margens do rio, na obscuridade dos montes e vinhas, nas casas com história.
Onde se sente o passado.

Sei de um vale
Que de tão encantado, precisa de ser visto ou lido com o coração, como um livro precioso.


Um vale no Douro.



Ana de Melo

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