Foto:vítor santos |
"Começei a escrever em pequenino, antes de saber o que é a gramática e o que vem a ser a redacção, peguei numa pena e começei a escrever. O meu primeiro artigo, lembro-me bem, era eu estudante de primeiras letras, foi um artigo...necrológico. Foi, melhor dizendo, um necrológio. Tinha morrido um homem, passou-me à porta o acompanhamento, e eu quis dizer quem foi aquele homem...À noite, sobre a mesa da sala de jantar, enquanto a casa dormia, pus-me a escrever acerca do defunto. Não conclui o artigo, porque minha mãe, à fina força, me obrigou a meter na cama. Desde então, parece que é fatalidade, sempre que tento escrever alguma coisa, sou obrigado a fazer outra. Penso que minha mãe, coitada, legou a vara do comando a uma boa madrasta, que para mim tem sido a vida. Por caçoada, em vez de me obrigar a deitar como a minha mãe fazia, obriga-me a velar, cuidando de tudo, menos de encher papel, que é o meu gosto. O óbice da madrasta, criatura esperta, que me segreda, em horas calmas, a obrigação de viver. Em horas más, baila como uma megera e afirma, batendo o pé, que a porcaria das letras, em Portugal, não dá para uma broa de Avintes. É pitoresca, nessas oicasiões, a minha querida madrasta.
(...)
Posso dizer como o outro: escrevo, porque é preciso."
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