sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Efeitos Especiais

Foto: josé alfredo almeida




Há quantos séculos, quantos milénios, coabitamos cumplicemente e não cessas de me surpreender. Conheço-te (julgava conhecer-te) todos os atributos, todas as birras, todas as rasteiras, todos os cambiantes. E, afinal, contrariamente a mim que sigo com obediência cega o meu curso, apesar de arrufos pontuais, tu és camaleão, caleidoscópio, mágico. Fazes  o que queres de nós, teus súbditos submissos. Se te apetece fazer gazeta, manter-te no aconchego do lar celeste, mandas as nuvens entreter-nos com as suas piruetas, os seus jogos de formas e tons, o seu ar mauzão, ameaçador de chuvas que te não molham. E és invejoso. Nesses dias acinzentas espaços e almas. Se tu não brilhas, tudo o mais é opaco, enlutado. Tu fazes-me lembrar um artista circense, multifacetado,  capaz de todos os malabarismos, de todas as acrobacias. E, também, um realizador de cinema a deitar mão de vistosos e convincentes efeitos especiais.
Hoje, abusaste. Pareces o rei que és, és o rei que pareces. Envergando manto de brocado cor de ouro velho, investido de uma solenidade resplandecente, estás mais vaidoso do que nunca. Tão vaidoso que te miras e remiras no espelho que sou, sabendo o perigo narcísico de te apaixonares pela tua imagem.



Vila Real, 12 de Janeiro de 2017
M. Hercília Agarez

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