Foto: josé alfredo almeida |
Há quantos séculos, quantos milénios, coabitamos
cumplicemente e não cessas de me surpreender. Conheço-te (julgava conhecer-te)
todos os atributos, todas as birras, todas as rasteiras, todos os cambiantes.
E, afinal, contrariamente a mim que sigo com obediência cega o meu curso,
apesar de arrufos pontuais, tu és camaleão, caleidoscópio, mágico. Fazes o que queres de nós, teus súbditos submissos.
Se te apetece fazer gazeta, manter-te no aconchego do lar celeste, mandas as
nuvens entreter-nos com as suas piruetas, os seus jogos de formas e tons, o seu
ar mauzão, ameaçador de chuvas que te não molham. E és invejoso. Nesses dias
acinzentas espaços e almas. Se tu não brilhas, tudo o mais é opaco, enlutado.
Tu fazes-me lembrar um artista circense, multifacetado, capaz de todos os malabarismos, de todas as
acrobacias. E, também, um realizador de cinema a deitar mão de vistosos e
convincentes efeitos especiais.
Hoje, abusaste. Pareces o rei que és, és o rei que pareces.
Envergando manto de brocado cor de ouro velho, investido de uma solenidade resplandecente,
estás mais vaidoso do que nunca. Tão vaidoso que te miras e remiras no espelho
que sou, sabendo o perigo narcísico de te apaixonares pela tua imagem.
Vila Real, 12 de Janeiro de 2017
M. Hercília Agarez
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